quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FELIZ 2010

O ANO DE 2009 FOI MARAVILHOSO..BLOG NO AR, MAIS DE 12 MIL PESSOAS ACOMPANHANDO AS ESTÓRIAS DE HUMOR, AVENTURA, DRAMA, SUSPENSE E ENTRE OUTRAS. oBRIGADO A TODOS!!
ESTAREMOS DE FÉRIAS..VOLTAREMOS EM BREVE. ABS

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A Enfermaria da favela



A ambulância procurava a rua Sete, da avenida Belmonte. A equipe mostrava-se cansada. Exausta depois de um dia cheio. Repleto de saídas. Não almoçaram e por fim, estavam às três da manhã andando pelas ruelas daquela comunidade.
__ Meu querido__ disse o motorista da viatura SA 04 baixando o vidro e dirigindo-se a um senhor parado em um ponto de ónibus._ o senhor sabe me informar onde fica a rua Sete?
O homem de aproximadamente cinquenta anos, carregava uma mochila preta nas costas. Estava saindo de casa para o trabalho. Carregado pelo sono, passou a mão pelo rosto em sinal visível do cansaço.
__ Rua Sete?
__ Isso..
__ Olha__ apontava ele para frente__ não tenho muita certeza mas acho que fica depois daquela praça, na rua ao lado daquela banca de jornal.
A ambulância dirigia-se bem lentamente. Parou em frente à rua. O condutor estava com seu rascunho em uma das mãos. Procurando pelos pontos de referências para encontrar o local.
Geralmente, quando as ambulâncias são solicitadas, fica sempre alguém da família ou vizinho perto do local para indicar a localização correta. Dessa vez não.
Ruas pequenas com carros parados pelos dois lados. Uma grande subida. Casas pequenas. De repente essa pequena rua transformou a visão de casas pequenas em um pequeno mundo, fechado por aquelas curvas aos olhos do mundo.
__ Favela__ disse Álvaro Neto chegando mais perto da cabine do motorista__ fudeu!
Aos poucos a ambulância penetrava pela rua Sete. Começaram a perceber a movimentação lenta de vultos. Três da manhã um carro piscando dentro da favela é provocante ao dedo que segura o gatilho.
Um volto passou do lado da janela da médica. Aquele corpo usando um capuz vermelho deixou sua cabeça entrar dentro do veículo pela janela.
__ Qual é?__ disse o homem segurado um rádio comunicador em uma mão e uma pistola prateada em outra.
A médica mostrou o rascunho com o endereço da chamada e o nome do solicitante.
__ Abre atrás ai cumpade__ disse o rapaz virando o corpo e caminhando em direção a porta traseira da ambulância.
Nessa hora, a equipe queria mais sair daquele local. Não lembrava mais o quadro do paciente. Se estava grave. Quem estava precisando de socorro era a equipe.
__ O que tem nessas mochilas ai?
__ Medicamento, seringas e materiais__ disse Álvaro Neto segurando as mochilas e mostrando para o rapaz.
Ele virou o corpo e com o rádio comunicou-se com outra pessoa.
__ Eles tem aqui um material....sei....sei...ta tranquilo irmão...sei..to esperando aqui..fechado__ disse o marginal com a outra pessoa do rádio, voltou-se a Álvaro Neto__ Agora abre todas as mochilas que vamos fazer umas compras.
Desceu de uma viela, um homem aparentemente de trinta e cinco anos. Portando calça jeans e blusão social branco. Não portava nenhuma arma. Caminhava tranquilo segurando um cigarro em uma das mãos.
__ Peguem todas as gazes, estamos sem.... a bala de oxigênio também__ ele apontava para dentro da ambulância e as pessoas retiravam tudo. A médica não saiu do ambulância. O condutor e Álvaro Neto estavam em pé atrás da viatura.
__ Passa o celular__ disse um menor que carregava um 765. O fuzil era quase do tamanho daquela criança.
__ Calma ai o Bacuri__ disse outro homem com barba rala pelo rosto que carregava uma espingarda calibre 12 com uma das mãos , deixando-a escorregar pelas costas__ não estamos aqui pra esculachar os doutor não, porra. __ apertando a cabeça dela com a outra mão completou__ segue seu rumo.
O outro homem já tinha passado toda a ordem. Colocaram todo o material em uma chevete com preta. Subiu o restante da favela sumindo na curva a frente. O homem puxou um n95 do bolso e discou uma seqüência.
__ Fala prego..tudo bem...olha só..segura ai a hidrocortisona, oxigênio e atadura..ah e também gaze__ jogou o cigarro no chão e pisou com seu sapato preto__ tivemos uma visita aqui em casa. Pode comprar o restante e paga logo esse muquirana.
O condutor estava encostado na parte traseira do veículo. Álvaro Neto arrumava o que tinha restado dentro do veículo. Um dos homens fechou a parte traseira e terminou a conversa.
__ Podem voltar..ou se quiserem, terminar o serviço.
A ambulância retornou para a base. Uma semana depois deste acontecimento, foi descoberto uma enfermaria do tráfico com até aparelho de ventilação mecânica, usado em pacientes graves para auxiliar na respiração.
Álvaro Neto estava cansado disso tudo. Tudo se encaminhava para um dia ele parar com aquilo tudo. Vinha calado no caminho de volta.
__ O que foi que você tanto pensa? __disse a médica
__ Quanto será que ganham esses caras ..aposto que ganham mais que a gente para trabalhar atendendo bandido nessa enfermaria.
Uma risada contida pelo condutor. Uma mão da médica na cabeça de Álvaro Neto. E só. Estavam tensos demais para descolorir aquele momento de relaxamento depois desse quase atendimento.

Só Dói Quando Rio

2009

Esse ano foi muito especial para nós do blog. Colocamos em prática um projeto de mostrar um pouco dos fatos, para muitos ocultos, que acontecem nos resgates, nas emergências e com as pessoas das emergências. Que 2010 seja um ano repleto de satisfações, felicidades, amor, paz e que a saúde seja tratada de forma mais honesta, verdadeira e quem esteja na gestão possa usar de caráter quando for articular os projetos e planos de atenção à população.
Força Sempre!
O melhor de Deus ainda está por vir!

sábado, 19 de dezembro de 2009

As Meninas Do Careca









O tom de chamada ecoava no ouvido de Álvaro Neto. Depois do término com Cíntia, sua namorada, ele tinha voltado ao mundo dos negócios amorosos, podemos dizer assim.
De certo modo, as companhias exercem uma forte influencia nos atos das pessoas. Justamente em momentos de indecisão ou quando as pessoas estão fragilidades por perdas ou tomadas por sentimentos de egocentrismo.
__Alô__ dizia a voz roca do outro lado da linha.
__ Opa..é o careca__ dizia Neto tapando a boca pelos corredores do hospital__ aqui quem ta falando é um colega do doutor Sérgio.
__Sérgio?__ indagava a voz
__ O médico da emergência do Municipal__ respondia Neto
uma pausa de pouco mais de três segundos e a voz já retomava com outros ares.
__ Puta que paril...Serginho??? Caralho como esse filho da puta ta?? Tem tempos que ele não me encomenda nada!
__ Po eu disse pra ele que tava afim de um docinho...é docinho né?
__ Isso mermo
__E hoje eu estava afim de algo desse tipo..tem como separar ai pra mim?
__ Lógico..só pegar o endereço que mais tarde vai ter algo de qualidade pra você aqui
A encomenda de uma noite feliz foi feita. Agora Álvaro Neto tinha duas missões: a primeira era conseguir alguém para fazer o seu plantão de noite e a outra era conseguir companhia.
Com dois telefonemas o primeiro problema já tinha sido solucionado. O segundo parecia bem mais complicado. Arrumar alguém que queira ir comigo.
Álvaro Neto falou com um. Ligou para outro.
__ Pó to sem grana__ dizia um
__ To sendo marcado demais em casa...ta complicado__ disse outro.
Marcos. Esse topa tudo. Guerreiro da noite, apesar de casado não possuía na alma o espírito aventureiro. Preferia a adrenalina ao sossego da casa.
__ To dentro, mas tem uma festa de confraternização lá do outro hospital para eu ir__ disse Marcos por telefone a Neto.
__ Po cara..vamos hoje..já acertei tudo com o careca. E eu sei que você sabe o endereço.
__ Fechado..às 20h nos vamos.
Tudo combinado. Falta explicar o que fariam. Careca era o maior agenciador de garotas de programa daquele município. Trazia meninas do Espírito Santo que buscavam um lugar para ficar enquanto estudavam ou algumas conseguiam juntar uma grana para abrir um negócio em sua cidade natal ou pagar dívidas.
Seguindo às riscas todas as orientações de Marcos, Neto esperava-o no posto de gasolina. Marcos chegou atrasado uns vinte minutos.
__Cara, vou te levar antes em um lugar show de bola..muito melhor que o do careca.
__ Mas dizem que as do carecas são as melhores.
__ Porra nenhuma;..mas faz o seguinte.. te levo nesse e depois na do careca..ai você escolhe. Depois vou na confraternização la do hospital..você quer ir comigo não??
__Não..não..quero pagar..
__ Lá vai conseguir de graça hein..
__ Fora de problema!
Riram e foram, cada um em seu carro. Marcos em seu monza classic ano 94. Azul. Um emblema de fábrica dizia : COPA DO MUNDO.
Chegaram em um local distante. Uma rua de terra levava a uma casa grande. Bem iluminada de frente com um amplo espaço para estacionamento.
__ Bom noite senhores__ dizia o homem de terno na porta. Foi ali que Álvaro Neto chegou a conclusão que o nome zona foi pessimamente colocado. Deveria ser ordem, porque de zona aquilo ali não tinha nada.
Uma pulseira com um código de barra foi colocado nas suas pulseiras. A cada consumação, um laser era passado pelo código. As portas dos quartos só eram abertas pelos códigos das pulseiras.
Uma linda loira aproximou-se, e com uma voz com nítido sotaque capixaba trouxe as honras da casa.
__ Conhecem a casa, senhores?
Os três trocaram alguns minutos de conversa. Na verdade Neto queria ir para onde o Sérgio tinha falado que era padrão.
O careca só traz a elite
A voz de Sérgio perdurava na mente. Mas Marcos virou-se e disse:
__ Vamos em outro lugar!
“Vamos em outro lugar”, era isso que Neto queria ouvir. Seguiu Marcos e foram para o tão esperado encontro com os doces do careca.
Pegaram a rua da praia e seguiram para um restaurante de luxo em umas das esquinas da orla. Pararam o carro um atrás do outro.
__Curte a noite__ disse Marcos completando com um tapinha nas costas de Neto__ as meninas aqui são super gente boa.
Neto ao entrar no local estranhou. Um local bem diferente . Poderia até ter trago sua mãe, enganando-se por causa do lugar. Várias mesas, com som ambiente. A iluminação clara, conseguindo-se ver os rostos de todos os presentes. Em algumas mesas uns casais em conversas, taças de vinho. Garçons pela casa circulando com pratos e espetos de churrasco.
A mesa na qual Marcos dirigia-se, era longa contando com cerca de umas quinze mulheres e alguns homens. No canto esquerdo de quem chegava estava lá o careca. Com seu jeito largado cercado por duas meninas.
__Alo gente esse aqui é meu amigo Álvaro.__Marcos apresentava Neto a todos presentes.
Marcos foi falar individualmente com cada uma das moças e com os rapazes presentes.” Isso seria uma pré suruba” , pensava Álvaro Neto.
__Você não vai falar com a gente não gato__ dizia uma morena bem no fundo da mesa a Álvaro Neto.
Pensou duas vezes. Estava me graça. Na verdade ele tinha achado a elite muito fraca. Meninas para se dizer a verdade feias. Mas já estava no inferno, então sentaria no colo.
Passou de uma a uma. Com beijos, suspiros nos cangotes. Era observado o tempo todo por Marcos que parecia fazer-lhe algum tipo de sinal. Não estava entendendo. Tinha que escolher uma daquelas meninas do careca. Chegou do lado do careca, apertou a mão do careca e levou a boca até o ouvido dele e sussurrou:
__ Já escolheu o docinho pra mim?
No mesmo instante o senhor de aproximadamente uns sessenta e cinco anos, deu um sorriso de canto de boca e deu com os ombros.
De repente algo estranho. Viu uma criança no meio de um casal.
“ Pedofilia, desse jeito” Sentiu-se mal. Apertou algo na garganta. “ Quem é essa gente que traz uma criança para esse lugar. Um outro casal com as mãos dadas e ambos com anel de casados.
“Muito estranho,...estranho demais”. Seu olhar percorria o local. Na mesa, vários guardanapos com o dizer ADEGA DA PRAIA. Seu olhar continuava a girar pelo local. Escutava um burburinho das pessoas na mesa. Apertou, sussurrou, e em uma até passou a língua no pescoço em um beijo mais demorado.
Marcos puxou Neto pelos braços e levou até o banheiro.
__Ta maluco Brother..fumou maconha estragada?
__ Que foi porra..to aproveitando..
__ Mas são modos isso que você ta fazendo??
__ Fazendo o que porra???Estranho é uma criança nesse lugar!
__ Que lugar..
__ Essa zona aqui!
Imediatamente Marcos colocou a mão na cabeça e rodou o corpo.
__ Esse lugar é um restaurante. Essas pessoas são a galera lá do outro hospital. Aquela mulher que você sussurrou no ouvido é minha chefe. Aquele senhor que você também sussurrou é o capelão. Aquela menina tem 6 anos e é filha da minha chefe.
No mesmo instante Neto parecia passar um filme na cabeça. O ridículo que ele fez-se passar, o trouxe em um mundo a parte. Sua mente girava dentro dele.
__ Fui__ disse correndo entregando a comanda ao garçom na saída. Ainda teve que pagar o rodízio.
Chegando no estacionamento. Percebeu que seu carro tinha sido roubado.
Saldo negativo da noite: duzentos reais do plantão, sessenta reais do rodízio, 10 reais do flanelinha, e duas horas esperando o seguro levá-lo embora para casa.

Só Dói Quando Rio

domingo, 13 de dezembro de 2009

A morena Encantadora



Álvaro Neto alcança o corredor principal daquele monstro. Com Nove andares, porém com uma estrutura de gigante, aquele hospital de Niterói abrigaria uma maravilhosa sensação para Álvaro Neto.
O hospital vazio, por ser feriado, trazia setores sem ninguém. As copeiras com os carrinhos pelos corredores, O sol que espiava pela janela e começava a entrar pelo lado esquerdo do prédio, que dava com a concessionária.
Álvaro Neto começava o plantão já cansado. A vida de plantonista de ser ping e pong cansa por demais. Preferia a vida de um único emprego com certas limitações financeiras a essa correria e o gasto impensado do dinheiro que entrava. Porém estava no ciclo vicioso.
Quinze minutos de atraso vem pelo corredor a morena jambo de cabelos escuros longos, olhar penetrante, lábios carnudos. Uma roupa branca dignamente branca, colada, mostrando a todos as valorosas curvas daquele ser chamado Paola. A técnica de Enfermagem Paola.
__ Bom dia__ dizia a morena deixando perceber sua língua com um mili segundos em que Álvaro Neto parou no tempo. Já tinha visto aquele ser antes.
Álvaro Neto tinha que depositar até o meio-dia o valor para participar da avaliação que teria. Um trabalho fantástico a bordo de um navio que sairia do Rio e passaria por ilha grande, ilha bella e voltaria ao Rio.
Aquela morena estava no banco. Todos do banco não conseguiam parar de olhar para ela. Naquele dia sim com mais tonalidade na roupa, deixando ver seus ombro com uma blusa que todos tentavam tirá-la com o olhar. A tiracolo, um rapaz branco de aproximadamente um metro e sessenta e alguma coisa.
Os dois abraçados na fila do banco. Ele com um ar despreocupado, lançando aos demais presentes a certeza que aquela linda morena era fiel. Faltando apenas a plaquinha” pertence a..”
Hoje sim ela estava lá, livre. Exuberante para a gama de fãs que estaria em contato hoje. Seu setor era a pediatria, estava ali por força do destino. Uma ligação no meio da noite a intimou.
__ Paola..você me deve um favor. Faça para mim.
__ Faço.Nossa como você é, hein!
O destino uniu Álvaro e Paola ali naquele dia, nem que fosse apenas por um plantão.
Este sim decorreu em uma tranqulidade absurda. Marasmo total, sem nenhuma intercorrência. As duas outras técnicas do plantão e mais antigas. Estavam descansando em um outro setor. Um acordo entre equipe proporciona esses tipos de benefícios. Muitas vezes exagerados e outras absurdamente exagerados. Enfim, estavam lá os dois a sós.
__ Você mora onde?
__ Barreto e você?__ Disse Paola
__ Fonseca!
OS dois já estavam perto demais. Conversavam bem baixo para não incomodar ninguém. Vendo de longe, parecia até que os dois já estavam mal intencionados. A conversa evoluía de uma maneira assustadora, até chegar no assunto ideal.
__ Meu noivo esta deixando muito a desejar.
__ Como assim?__ disse Álvaro Neto, sabendo que quando alguém fala desse jeito do companheiro para outra pessoa, algo já esta mal encaminhado.
__ Ele me deixa em casa para ver futebol.
__ Chii
__ Me deixou esperando mais de duas horas esses dias ai, porque estava esperando um amigo chegar para marcar algo que nem me lembro mais de tão importante que era.
Álvaro Neto lançava um veneno após o outro. Ora uma mão no rosto, ora uma mão no cabelo que esticava até o pescoço. De tão perto que já estavam, Álvaro Neto esticou um pouco o pescoço e deu um beijo em Paola.
__ Vem aqui__chamou- a!
Levou para o quarto de descanso da equipe. Lembrou que as duas outras pessoas estavam longe dali. A maioria dos pacientes estavam vendo um jogo pela televisão e poucos incomodariam qualquer ação dos dois.
__ Loucura isso!!__ disse Paola com um sorriso doce.
Álvaro possui aquele corpo antes de outro ali em seu ambiente de trabalho. O cansaço deu lugar ao ânimo. A medida que uma peça de roupa saia, seu coração mais sangue injetava.
Não pensou em supervisão ou em um paciente chegar. O impulso dominava aqueles corpos. Ela também esqueceu de tudo. Baixou o sutiã e deu de presente seus seios ao deleite dos lábios de Álvaro Neto.
__ Perfeitos__ pensa em todo o momento __ ela é toda perfeita.
Com certeza Álvaro Neto estava certo.Ela era perfeita. Um jogo de perna incrível, um rosto delicado e ao mesmo tempo provocante. Não tinha como negar. Entregues ali ao prazer atingiram ao clímax, entre sussurros naquele gigante.
Tempos depois, rolava uma nota pelos corredores de tudo que tinha acontecido. Ninguém prova e ninguém desaprova. Na verdade, todos queriam estar ali, sentindo a adrenalina correr pelo corpo e dando lugar ao prazer monstruoso..
Nunca mais se viram. Dizem até hoje que Paola ainda está com seu noivo. Dizem até hoje que ela lembra-se daquele quarto de descanso.
Ainda hoje aquele quarto deve dar arrepios.

Só Dói Quando Rio

domingo, 6 de dezembro de 2009

Neves




Era certamente um dia perfeito. O mar com ondas fortes e a água com aquela sua cor característica. Deitava-se na areia, com seu corpo bronzeado , seu jogo de biquíni amarelo com listras azuis e sua cicatriz em seu joelho direito, Daniela Abreu.
Aparentava ter vinte e poucos anos, pelo seu formado corpo e seu jeito de mulher, mas ainda possuía dezoito anos. Apenas dezoito anos.
Seu pensamento no vigor da vida, pelo esforço de manter-se viva. Com a morte do pai, que já faz quatro anos, passou a ter uma responsabilidade grande dentro de casa, pois sua mãe, atordoada pelo excesso de trabalho, mal tinha tempo de cuidar do outro filho mais novo. Secar cabelo, cortar unha, ir em reunião de escola e ouvir as perguntas do pequeno Danilo, ficavam ao cargo da Daniela.
Apesar dos dezoito anos, Daniela tinha experiências de mulheres com mais idade. Aos quinze sofrerá um grave acidente que rompeu um dos tendões do seu joelho direito. Permanecerá na cama por alguns meses.
Depois da morte do pai, sua mãe conhecerá um outro homem que passou a viver na sua casa. Daniela mudará seu modo de agir. Passou a ser mais calada. Chorava quando dormia e quando acordava. A mãe sempre dizia as amigas.
__ Saudades do pai.
Daniela sentia sim saudades do pai, mas a falta do respeito do pai. O seu padrasto abusou sexualmente de Daniela por um período. Até que um dia sua mãe chega mais cedo em casa do que o habitual.
__ Meu Deus!
Encontra seu namorado estendido no chão da sala. Com o prato de comida espalhado pelo seu tapete e o copo ainda agarrado na sua mão.
__ Infarto agudo do miocárdio__ foi o que estava escrito na certidão de óbito.
__ Ele era cardíaco e tomava um monte de remédio__ dizia a mãe de Daniela para suas amigas no enterro
Daniela chorou no enterro. Foi uma comoção entre os amigos da família com mais essa tragédia. Daniela tinha saído a pouco tempo de casa.
__ Melhor assim. Eu que encontrei e não as crianças.
Tempos entraram e Daniela conheceu Neves.
__ Quem?__ o leitor pergunta.
__ Cocaína__ dizia o médico na emergência__ a quantidade foi grande e ela teve sorte de não ter tido algo pior.
Sua mãe ergueu a mão e passou em sua cabeça. Retiraram o soro que estava pendurando pelo seu braço esquerdo. Foi caminhando de volta para casa com auxílio daquela mãe. Que perdera o marido e o namorado. Se bem que esse último, sem ela saber, abusava sexualmente de sua filha.
Daniela ficou vítima das drogas. Abusava de si mesma agora. Não mais necessitava culpar ninguém pela tristeza que nutria seu olhar. Agora era com ela mesma.
__ Não tenho dinheiro__ dizia sua mãe__ você tem que se tratar Daniela.
Sua obsessão pela cocaína estava ultrapassando os limites. Até seu corpo voltou a ser usado para a compulsão.
Daniela queria a morte. Deitou-se na areia quente de Piratininga. Seu biquíni amarelo com listras azuis. Seu cabelo escuro beirando pela testa uma parte dele. Olhou para duas crianças correndo ao seu lado. Pelo reflexo do sol, viu uma poça de água à sua frente. Miragem. Conhecia bem essas anexos da realidade. Miragens, alucinações, delírios. Cocaína mata.
Na tarde que o namorado de sua mãe chegou do trabalho, Daniela estava lavando a louça para sua mãe. O vestido preto que vestia, logo foi levantado pelas mãos daquele homem que ela aprendeu a detestar.
__ To te querendo__ a voz daquele vendedor de planos de saúde entravam pelos seus ouvidos.
Daniela ofereceu o seu almoço. Macarrão ao molho branco e suco de pêssego. Para a sobremesa já tinha avisado.
__ Pudim de morango.
A cada garfada o olhar de Daniela entrava no corpo daquele homem de um metro e oitenta de altura. Cabelos escuros com um pouco de prateado pelas laterais.
Ele com um mínimo de percepção e um último insith, ainda pediu pelos remédios que estavam no armário da cozinha. A crise veio muito forte. As dores no peito pareciam garras que lhe queriam arrancar o coração.
Eram as garras da Daniela, que há um mês atrás conseguiu uma droga que fazia efeito contrário a todas medicações que ele tomava para prevenir o infarto.
Daniela chorou no enterro para as pessoas. Sorriu para si. A cocaína mata e Daniela também. Conseguiu toda a medicação com um rapaz que trabalhava em um laboratório e que também era viciado em cocaína. Trocou sexo e cocaína por uns comprimidos.
O sol apertava mais forte. Ela puxou a canga que a defendia da areia quente. Colou a mini vestido. Perceptiva nas ondas que batiam e voltavam, que não se entregavam a fortaleza da praia. Decidiu-se não abusar mais de si. Lutou.
Daniela entrou para o NA perto de sua casa. E hoje já faz dois meses que ela não se encontra com Neves.

Só Dói Quando Rio