sábado, 25 de julho de 2009

A Despedida



Álvaro Neto sentia, já na entrada da rua, um clima com ar de tristeza. As pessoas em volta da ambulância verde, a espera de notícias. Um homem de jaleco branco fechava a porta lateral da ambulância e entrava prédio sem olhar para trás.
Seguro que sua amiga, Ana Cláudia, estava naquela ambulância, Álvaro Neto foi parando o seu carro e ainda com seus pais dentro do veículo, correu para ver como ela se encontrava.
Seu olhar se deparou com a mais triste de todas as imagens que ele já tinha presenciado.
Ana Cláudia com seu olhar triste entregue na maca da ambulância tendo em seu braço esquerdo, a entrada de um jelco percorrido por um soro que estava pendurado na parte de cima da ambulância. Seu rosto coberto pela névoa da máscara de oxigênio e sua testa embebida das lágrimas de seu filho, Lucas de 13 anos. Suas mãos juntas, quase que unidas, mantinham-se na direção do coração de Ana Cláudia, parecendo que os dois tentavam transferir força um ao outro, mas que os dois pareciam saber que tudo isso seria em vão.
Há mais ou menos três anos a trás, Ana sofreu um período de amnésia e ficou internada em um grande hospital para tratamento e diagnóstico do problema. Duas semanas depois, o problema já estava identificado: Tumor cerebral, de mais ou menos do tamanho de uma azeitona.
Aos poucos, Ana Cláudia tinha que voltar ao hospital. Em um último exame, tinha vestígio do tumor em mais dois lugares: Fígado e Estômago.
Álvaro Neto mal conseguia entender o teor daquele momento. Mãe e filho em uma despedida silenciosa. Poderiam ter falado tantas coisas. Tantos momentos. Várias lembranças. Risos ou choros. Mas apenas o olhar era o presencial dos dois. Sentiam mais do que falavam. Estavam ali, frente a frente. Um passo a não se verem mais.
Ana Cláudia foi transferida para um hospital particular e dois dias depois veio a falecer.
Essa cena foi mais uma facada nos sentimentos de Álvaro Neto com toda essas cenas de mortes, dor e desespero. Para que não vive essa vida, aquela cena foi apenas uma despedida. Para Álvaro Neto foi uma aviso: Essa vida não te pertence.
Ele precisava sair de qualquer maneira desse mundo de sangue, dor e despedidas.

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