sábado, 23 de maio de 2009

A Cegonha



Muitas coisas acontecem e nem sabemos que acontecem.
Você sabe o que é um aborto? Já viu? Sabe as maneiras que podem ser feitas?
O aborto é o ato da retirada do feto ou embrião até vinte e duas semanas de gestação. Após esse período
é homicídio. Ainda mais quando as duas garras em formas de um grande garfo penetram o útero tão protegido e como dois policiais com mandado de busca e apreensão agarram a cabeça da criança e retiram-o já morto ou agonizando.
A luta pela vida em uma tentativa frustrada. O mais fraco perdendo para o mais forte. Quem goza mata.
Quem gera oprime. Quem oprime mata. Quem mata merece morrer.
Natália olhou para a luz que descia do elevador, várias partes iguais. Uma a uma.
Sua menina no colo ainda sem nome, sem pai e sem destino. Caminhavam juntas por nove meses. Um ato cirúrgico a retirou de dentro e a colocou nas garras de um ser destrutível. O mundo.
O livre arbítrio da vida permite monstros serem chamados de geradores de vida. Fábricas de corpos que irão progredir em latões de lixos, caçambas de entulhos ou poços artesianos.
__ Um cigarro, por favor!
__ Tem 20 centavos?
Natália acendeu seu cigarro e caminhou em direção ao estacionamento.
Aos 2 meses de gestação tentou aborto com remédios caseiros. Com 4 meses de gestação tentou talo de mamão,
fazendo movimentos penetrantes, quando sangrou até sair um imenso coágulo, pensou :
__ Estou livre!
Errou! Aos 5 meses tentou aborto em uma clínica, mas seu fraco poder económico não tinha dinheiro nem para
a passagem do ónibus.
A criança nasceu e agora estava sendo enrolada em uma sacola de supermercado. Seu futuro era certo. Nada mais podia segurar a fúria encolhida de um ser como Natália.
Deixou o cigarro cair. Abaixou e deixou a sacola em baixo da roda de um caminhão de mudanças.
Saiu sem olhar para trás, sinal que pudesse demonstrar um pouco de ressentimento.
O motorista logo depois entrou pela porta. Estava atrasado. Engatou a chave na ignição. Girou e nada.
__ Não acredito..que essa geringonça não vai funcionar..??
Tentou, tentou e tentou e nada.
Saltou do carro. Girou o corpo e encostou em uma sacola verde que estava em baixo da roda esquerda. Ouviu um gemido.
__ O que é isso?
Seu olhar de surpreso misturou-se com uma alegria. Olhou para o lado e não viu ninguém. Sentou na calçada e chorou abraçado com aquela linda menina de olhos azuis.
Raquel, hoje, com 4 anos é a única filha do casal António e Paula. Paula teve que ser operada aos 19 anos.Fez umas histerectomia que é a retirada do útero, devido a um tumor.
O dom que ela não tinha outra teve não aproveitou. Os dois sonhavam em ter um filho. E Raquel foi dada de presente.
O amor não se acha. Se constrói.
Raquel é excessão em tantas atrocidades que acontecem. Crianças que são ejetadas do útero diretas no vaso sanitário e ainda são vistas pelas suas genitoras, descendo rodando para a morte. Agonizam até seus pulmões encharcarem de água.
Crianças que são cortadas ao meio pelas lâminas afiadas das pinças que penetram no útero e arrancam a vida em construção.
É o homem em luta com a vida. É o homem em luta com Deus.
Você daria descarga em uma privada, nela contendo seu bebê ainda com vida? Você daria a luz e colocaria seu filho debaixo da roda de um caminhão, coberto por um saco plástico?
Não? Muitas pessoas fazem isso!
Não seja o próximo!

SÓ DOI QUANDO RIO

terça-feira, 19 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Dez "Real"




A exaustão tomava conta do corpo de Álvaro Neto. O suor seco corria pelo corpo até o encontro do chuveiro. A água quente dava uma trégua em toda a adrenalina.
Ele tinha um tempo para dormir. Ele aproveitou esse tempo para dormir. Ele deitou eram 9h da manhã. Acordou às 10h quando o rádio despertou seu sono.
__ 04 na escuta!
A voz metálica fez seus olhos abrirem. Ele estava em outro lugar.
***
A pena de pavão no cabelo e a fumaça do cigarro, davam o ar de uma rebeldia. Uma linda rebeldia.
Cíntia com sua estatura alta, centrípeta com o copo de vinho em uma das mãos, torneada com cabelos bem tratados a pegar a luz do sol. Corpo moreno e olhos verdes. Esbelta de tirar o fôlego de quem visse.
A beira dágua, os peixes comiam os pedaços de pão que eram lançados. Do deque de madeira clara, um barman abaixava-se.
__ Sua coca senhor.
Álvaro suportava o calor forte com uma coca bem gelada.
__ Gelo e limão, por favor!
A mão da linda morena nos ombros de Álvaro. Seu cansaço contínuo era abrasado pelo afago da linda mulher.
__ Sabe o que eu não entendo Álvaro__ deu um gole no vinho__ esse seu jeito de pensar da vida. As coisas que você fala.
__ É mais fácil fechar os olhos do que ver as coisas que vemos Cíntia. Esse pavor dos sentimentos ergue nosso instinto de fuga.
Os olhos de Cíntia ficavam estáticos sempre quando Álvaro falava. Ela seguia suas ideias, mesmo que às vezes ela não concordasse. Ela o amava demais para saber algo contra alguma coisa que ele dissesse.
Álvaro fez algumas decisões que o levaram à lugares que ninguém pode voltar.
***

__ Na escuta__ Disse o condutor
__ A solicitação de atendimento é de uma paciente psiquiátrica que esta criando briga.
__ Anota ai o endereço__ disse o condutor para Álvaro, sem tocar o botão do rádio.
A ambulância saiu para o atendimento. Álvaro com sono ia na parte de trás da ambulância. O médico, um rapaz novo sem muita experiência, tinha a fama de sempre enrolar em todas as saídas. Ninguém gostava de trabalhar no seu plantão.
__ É por aqui!__disse o condutor.

__ Mas eu não to vendo nada de estranho__ disse o médico.
__ Isso que é estranho, não ter nada acontecendo nesse inferno de Rio de Janeiro__ disse Álvaro lá de trás com a voz rouca de sono sem saber o que eles estavam procurando.
__ Pera ai..pera..ali ali.. uma mulher gritando na portaria do prédio__ disse o médico.
__ Po camarada..podia ter dado última forma no evento e a gente voltava pra base..” Central..Central.. foi trote”__ disse Álvaro
__ Calma Álvaro!
Os três saltaram da ambulância.
__ Boa tarde__ disse o médico__ quem chamou o resgate?
A mulher e o homem que estavam discutindo olharam um para o outro.
__ Filho da puta__ disse a mulher aos berros apontando o dedo entre as grades do portão do prédio para o porteiro.
__ Eu?tá doida__ disse o porteiro com os braços cruzados.
O médico entrou na discussão, enquanto Álvaro sentava na calçada e colocava as cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos no queixo.
__ Gente..o que está havendo aqui?
__ Havendo doutor..? é que esse filho da puta me contratou ontem e não quer me pagar os meus 10 real...me usou e abusou e agora não quer pagar os serviço.
Álvaro olhou para trás, colocou a cabeça dentro do macacão e riu. Olhou para o condutor que não conseguia disfarçar os risos.
__ Calma gente..vocês não podem discutir assim
__ Calma o que??? Quero meus 10 real!!
A confusão instalada. Um paga e não paga. E ficaram ali por quase meia hora.
O médico teve a coragem de passar um rádio para a regulação falando sobre o evento.
__ Eu fiz com que o porteiro desse 8 reais para a prostituta. Ela aceitou e foi embora__ disse o médico para a central.
Álvaro passou o dia todo dizendo:
__ Quero meus 10 real!
A confusão acabou com o porteiro subindo, e a prostituta indo procurar seus devedores. A família do porteiro estava dentro do quarto dos fundos esperando a confusão acabar para sair.
Mas tudo isso é bem difícil de acreditar!
Vocês acreditam nisso?
Foi tudo muito engraçado e real!

sábado, 2 de maio de 2009

Só Dói Quando Rio

O Milagre



As luzes do quarto foram acesas. Os passos ráídos já foram suficientes para
despertar Álvaro Neto de seu sono tranquilo.
__ Álvaro_ a mão encosta no seu ombro e a voz o faz acordar de vez__ tem uma
mulher na sala de parto, com dilatação 8.Dilatação 8 está em uma escala de 0 a 10 onde 0 o colo do útero está fechado e 10 pronto para o nascimento.
__ To levantando.
Álvaro passa a mão no bolso tira um chiclete. Enquanto lava o rosto, tenta
se encontrar naquele quarto em penumbra. Olha no relógio.
__ Parto às três da manhã__ coça a cabeça__ sacanagem!
Fecha a porta do quarto e vai para a sala de parto que fica a uns 50 metros do quarto da Enfermagem.
Estavam duas técnicas de Enfermagem mais a plantonista da clínica. Cidade do interior as pessoas estão acostumadas em ter parto normal. Apesar de todo o lado positivo e das campanhas do governo, Álvaro sempre achou que ali não tinha nada de normal.
__ É anormal uma criança tão grande sair por um lugar tão pequeno__ sem
pre dizia isso em todos os partos.
__ Faz força vamos lá, já fiz o corte para te ajudar_ dizia a médica com a
paciente já posicionada na mesa.
__ Ai..ta doendo muito.
Dezesseis anos é uma idade boa para começar a descobrir o mundo, Escolher uma profissão e não esta as três da manhã com as pernas abertas pronta para ter o seu segundo filho.
___ Vai ..vai já esta com a cabeça para fora.
A dor imensa fez a jovem desmaiar. O desespero na pequena sala de parto foi geral.
Tapa no rosto. Água gelada. Até que com uma última força, a jovem conseguiu
expelir a criança.
Sem nenhuma dúvida a médica disse.
__ Feto morto!
A criança agora nos braços de Álvaro, sem vida e junto ali todo um trauma que Álvaro carregava por toda sua carreira. Medo de ter que lidar com a vida de uma criança. Aquele ser tão pequeno e frágil. Arrepio.
__ Vamos aspirar_ dizia Álvaro
__ Aspirar para quê?__ disse a técnica virando o corpo e pedindo para a avó da criança sair da sala__ não ouviu a médica dizer?
Álvaro sem saber o porquê, manteve o procedimento. Iniciou a manobra de
ressuscitação com seu dedo polegar. Apertava o minúsculo peito da criança com toda
sua força mental. Seu espírito evocava o retorno daquela alma. Álvaro não parava.
__ A placenta já saiu__ dizia a médica__ inteira!
Todos já ajeitavam a sala. Arrumavam aquela bagunça. Uma técnica já tinha voltado para o quarto.Poderia descansar mais um pouco. A médica arruma sua roupa, tirando o
avental de cima. Quando um choro paralisou todos na sala.
__ Ta viva__ dizia Álvaro__ ta viva Porra!
Todos correram para a criança. Ele já tinha aspirado e mantinha a massagem. Agora levou até o berço aquecido e deixou no oxigénio. A cor de roxa transformava-se em rosa.
Todos ali voltavam-se à criança, e a vida ressurgia naquele corpo. Dali, todos tiveram duas certezas sobre a vida:
Só acaba quando termina.
Só Deus diz quando termina.