quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FELIZ 2010

O ANO DE 2009 FOI MARAVILHOSO..BLOG NO AR, MAIS DE 12 MIL PESSOAS ACOMPANHANDO AS ESTÓRIAS DE HUMOR, AVENTURA, DRAMA, SUSPENSE E ENTRE OUTRAS. oBRIGADO A TODOS!!
ESTAREMOS DE FÉRIAS..VOLTAREMOS EM BREVE. ABS

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A Enfermaria da favela



A ambulância procurava a rua Sete, da avenida Belmonte. A equipe mostrava-se cansada. Exausta depois de um dia cheio. Repleto de saídas. Não almoçaram e por fim, estavam às três da manhã andando pelas ruelas daquela comunidade.
__ Meu querido__ disse o motorista da viatura SA 04 baixando o vidro e dirigindo-se a um senhor parado em um ponto de ónibus._ o senhor sabe me informar onde fica a rua Sete?
O homem de aproximadamente cinquenta anos, carregava uma mochila preta nas costas. Estava saindo de casa para o trabalho. Carregado pelo sono, passou a mão pelo rosto em sinal visível do cansaço.
__ Rua Sete?
__ Isso..
__ Olha__ apontava ele para frente__ não tenho muita certeza mas acho que fica depois daquela praça, na rua ao lado daquela banca de jornal.
A ambulância dirigia-se bem lentamente. Parou em frente à rua. O condutor estava com seu rascunho em uma das mãos. Procurando pelos pontos de referências para encontrar o local.
Geralmente, quando as ambulâncias são solicitadas, fica sempre alguém da família ou vizinho perto do local para indicar a localização correta. Dessa vez não.
Ruas pequenas com carros parados pelos dois lados. Uma grande subida. Casas pequenas. De repente essa pequena rua transformou a visão de casas pequenas em um pequeno mundo, fechado por aquelas curvas aos olhos do mundo.
__ Favela__ disse Álvaro Neto chegando mais perto da cabine do motorista__ fudeu!
Aos poucos a ambulância penetrava pela rua Sete. Começaram a perceber a movimentação lenta de vultos. Três da manhã um carro piscando dentro da favela é provocante ao dedo que segura o gatilho.
Um volto passou do lado da janela da médica. Aquele corpo usando um capuz vermelho deixou sua cabeça entrar dentro do veículo pela janela.
__ Qual é?__ disse o homem segurado um rádio comunicador em uma mão e uma pistola prateada em outra.
A médica mostrou o rascunho com o endereço da chamada e o nome do solicitante.
__ Abre atrás ai cumpade__ disse o rapaz virando o corpo e caminhando em direção a porta traseira da ambulância.
Nessa hora, a equipe queria mais sair daquele local. Não lembrava mais o quadro do paciente. Se estava grave. Quem estava precisando de socorro era a equipe.
__ O que tem nessas mochilas ai?
__ Medicamento, seringas e materiais__ disse Álvaro Neto segurando as mochilas e mostrando para o rapaz.
Ele virou o corpo e com o rádio comunicou-se com outra pessoa.
__ Eles tem aqui um material....sei....sei...ta tranquilo irmão...sei..to esperando aqui..fechado__ disse o marginal com a outra pessoa do rádio, voltou-se a Álvaro Neto__ Agora abre todas as mochilas que vamos fazer umas compras.
Desceu de uma viela, um homem aparentemente de trinta e cinco anos. Portando calça jeans e blusão social branco. Não portava nenhuma arma. Caminhava tranquilo segurando um cigarro em uma das mãos.
__ Peguem todas as gazes, estamos sem.... a bala de oxigênio também__ ele apontava para dentro da ambulância e as pessoas retiravam tudo. A médica não saiu do ambulância. O condutor e Álvaro Neto estavam em pé atrás da viatura.
__ Passa o celular__ disse um menor que carregava um 765. O fuzil era quase do tamanho daquela criança.
__ Calma ai o Bacuri__ disse outro homem com barba rala pelo rosto que carregava uma espingarda calibre 12 com uma das mãos , deixando-a escorregar pelas costas__ não estamos aqui pra esculachar os doutor não, porra. __ apertando a cabeça dela com a outra mão completou__ segue seu rumo.
O outro homem já tinha passado toda a ordem. Colocaram todo o material em uma chevete com preta. Subiu o restante da favela sumindo na curva a frente. O homem puxou um n95 do bolso e discou uma seqüência.
__ Fala prego..tudo bem...olha só..segura ai a hidrocortisona, oxigênio e atadura..ah e também gaze__ jogou o cigarro no chão e pisou com seu sapato preto__ tivemos uma visita aqui em casa. Pode comprar o restante e paga logo esse muquirana.
O condutor estava encostado na parte traseira do veículo. Álvaro Neto arrumava o que tinha restado dentro do veículo. Um dos homens fechou a parte traseira e terminou a conversa.
__ Podem voltar..ou se quiserem, terminar o serviço.
A ambulância retornou para a base. Uma semana depois deste acontecimento, foi descoberto uma enfermaria do tráfico com até aparelho de ventilação mecânica, usado em pacientes graves para auxiliar na respiração.
Álvaro Neto estava cansado disso tudo. Tudo se encaminhava para um dia ele parar com aquilo tudo. Vinha calado no caminho de volta.
__ O que foi que você tanto pensa? __disse a médica
__ Quanto será que ganham esses caras ..aposto que ganham mais que a gente para trabalhar atendendo bandido nessa enfermaria.
Uma risada contida pelo condutor. Uma mão da médica na cabeça de Álvaro Neto. E só. Estavam tensos demais para descolorir aquele momento de relaxamento depois desse quase atendimento.

Só Dói Quando Rio

2009

Esse ano foi muito especial para nós do blog. Colocamos em prática um projeto de mostrar um pouco dos fatos, para muitos ocultos, que acontecem nos resgates, nas emergências e com as pessoas das emergências. Que 2010 seja um ano repleto de satisfações, felicidades, amor, paz e que a saúde seja tratada de forma mais honesta, verdadeira e quem esteja na gestão possa usar de caráter quando for articular os projetos e planos de atenção à população.
Força Sempre!
O melhor de Deus ainda está por vir!

sábado, 19 de dezembro de 2009

As Meninas Do Careca









O tom de chamada ecoava no ouvido de Álvaro Neto. Depois do término com Cíntia, sua namorada, ele tinha voltado ao mundo dos negócios amorosos, podemos dizer assim.
De certo modo, as companhias exercem uma forte influencia nos atos das pessoas. Justamente em momentos de indecisão ou quando as pessoas estão fragilidades por perdas ou tomadas por sentimentos de egocentrismo.
__Alô__ dizia a voz roca do outro lado da linha.
__ Opa..é o careca__ dizia Neto tapando a boca pelos corredores do hospital__ aqui quem ta falando é um colega do doutor Sérgio.
__Sérgio?__ indagava a voz
__ O médico da emergência do Municipal__ respondia Neto
uma pausa de pouco mais de três segundos e a voz já retomava com outros ares.
__ Puta que paril...Serginho??? Caralho como esse filho da puta ta?? Tem tempos que ele não me encomenda nada!
__ Po eu disse pra ele que tava afim de um docinho...é docinho né?
__ Isso mermo
__E hoje eu estava afim de algo desse tipo..tem como separar ai pra mim?
__ Lógico..só pegar o endereço que mais tarde vai ter algo de qualidade pra você aqui
A encomenda de uma noite feliz foi feita. Agora Álvaro Neto tinha duas missões: a primeira era conseguir alguém para fazer o seu plantão de noite e a outra era conseguir companhia.
Com dois telefonemas o primeiro problema já tinha sido solucionado. O segundo parecia bem mais complicado. Arrumar alguém que queira ir comigo.
Álvaro Neto falou com um. Ligou para outro.
__ Pó to sem grana__ dizia um
__ To sendo marcado demais em casa...ta complicado__ disse outro.
Marcos. Esse topa tudo. Guerreiro da noite, apesar de casado não possuía na alma o espírito aventureiro. Preferia a adrenalina ao sossego da casa.
__ To dentro, mas tem uma festa de confraternização lá do outro hospital para eu ir__ disse Marcos por telefone a Neto.
__ Po cara..vamos hoje..já acertei tudo com o careca. E eu sei que você sabe o endereço.
__ Fechado..às 20h nos vamos.
Tudo combinado. Falta explicar o que fariam. Careca era o maior agenciador de garotas de programa daquele município. Trazia meninas do Espírito Santo que buscavam um lugar para ficar enquanto estudavam ou algumas conseguiam juntar uma grana para abrir um negócio em sua cidade natal ou pagar dívidas.
Seguindo às riscas todas as orientações de Marcos, Neto esperava-o no posto de gasolina. Marcos chegou atrasado uns vinte minutos.
__Cara, vou te levar antes em um lugar show de bola..muito melhor que o do careca.
__ Mas dizem que as do carecas são as melhores.
__ Porra nenhuma;..mas faz o seguinte.. te levo nesse e depois na do careca..ai você escolhe. Depois vou na confraternização la do hospital..você quer ir comigo não??
__Não..não..quero pagar..
__ Lá vai conseguir de graça hein..
__ Fora de problema!
Riram e foram, cada um em seu carro. Marcos em seu monza classic ano 94. Azul. Um emblema de fábrica dizia : COPA DO MUNDO.
Chegaram em um local distante. Uma rua de terra levava a uma casa grande. Bem iluminada de frente com um amplo espaço para estacionamento.
__ Bom noite senhores__ dizia o homem de terno na porta. Foi ali que Álvaro Neto chegou a conclusão que o nome zona foi pessimamente colocado. Deveria ser ordem, porque de zona aquilo ali não tinha nada.
Uma pulseira com um código de barra foi colocado nas suas pulseiras. A cada consumação, um laser era passado pelo código. As portas dos quartos só eram abertas pelos códigos das pulseiras.
Uma linda loira aproximou-se, e com uma voz com nítido sotaque capixaba trouxe as honras da casa.
__ Conhecem a casa, senhores?
Os três trocaram alguns minutos de conversa. Na verdade Neto queria ir para onde o Sérgio tinha falado que era padrão.
O careca só traz a elite
A voz de Sérgio perdurava na mente. Mas Marcos virou-se e disse:
__ Vamos em outro lugar!
“Vamos em outro lugar”, era isso que Neto queria ouvir. Seguiu Marcos e foram para o tão esperado encontro com os doces do careca.
Pegaram a rua da praia e seguiram para um restaurante de luxo em umas das esquinas da orla. Pararam o carro um atrás do outro.
__Curte a noite__ disse Marcos completando com um tapinha nas costas de Neto__ as meninas aqui são super gente boa.
Neto ao entrar no local estranhou. Um local bem diferente . Poderia até ter trago sua mãe, enganando-se por causa do lugar. Várias mesas, com som ambiente. A iluminação clara, conseguindo-se ver os rostos de todos os presentes. Em algumas mesas uns casais em conversas, taças de vinho. Garçons pela casa circulando com pratos e espetos de churrasco.
A mesa na qual Marcos dirigia-se, era longa contando com cerca de umas quinze mulheres e alguns homens. No canto esquerdo de quem chegava estava lá o careca. Com seu jeito largado cercado por duas meninas.
__Alo gente esse aqui é meu amigo Álvaro.__Marcos apresentava Neto a todos presentes.
Marcos foi falar individualmente com cada uma das moças e com os rapazes presentes.” Isso seria uma pré suruba” , pensava Álvaro Neto.
__Você não vai falar com a gente não gato__ dizia uma morena bem no fundo da mesa a Álvaro Neto.
Pensou duas vezes. Estava me graça. Na verdade ele tinha achado a elite muito fraca. Meninas para se dizer a verdade feias. Mas já estava no inferno, então sentaria no colo.
Passou de uma a uma. Com beijos, suspiros nos cangotes. Era observado o tempo todo por Marcos que parecia fazer-lhe algum tipo de sinal. Não estava entendendo. Tinha que escolher uma daquelas meninas do careca. Chegou do lado do careca, apertou a mão do careca e levou a boca até o ouvido dele e sussurrou:
__ Já escolheu o docinho pra mim?
No mesmo instante o senhor de aproximadamente uns sessenta e cinco anos, deu um sorriso de canto de boca e deu com os ombros.
De repente algo estranho. Viu uma criança no meio de um casal.
“ Pedofilia, desse jeito” Sentiu-se mal. Apertou algo na garganta. “ Quem é essa gente que traz uma criança para esse lugar. Um outro casal com as mãos dadas e ambos com anel de casados.
“Muito estranho,...estranho demais”. Seu olhar percorria o local. Na mesa, vários guardanapos com o dizer ADEGA DA PRAIA. Seu olhar continuava a girar pelo local. Escutava um burburinho das pessoas na mesa. Apertou, sussurrou, e em uma até passou a língua no pescoço em um beijo mais demorado.
Marcos puxou Neto pelos braços e levou até o banheiro.
__Ta maluco Brother..fumou maconha estragada?
__ Que foi porra..to aproveitando..
__ Mas são modos isso que você ta fazendo??
__ Fazendo o que porra???Estranho é uma criança nesse lugar!
__ Que lugar..
__ Essa zona aqui!
Imediatamente Marcos colocou a mão na cabeça e rodou o corpo.
__ Esse lugar é um restaurante. Essas pessoas são a galera lá do outro hospital. Aquela mulher que você sussurrou no ouvido é minha chefe. Aquele senhor que você também sussurrou é o capelão. Aquela menina tem 6 anos e é filha da minha chefe.
No mesmo instante Neto parecia passar um filme na cabeça. O ridículo que ele fez-se passar, o trouxe em um mundo a parte. Sua mente girava dentro dele.
__ Fui__ disse correndo entregando a comanda ao garçom na saída. Ainda teve que pagar o rodízio.
Chegando no estacionamento. Percebeu que seu carro tinha sido roubado.
Saldo negativo da noite: duzentos reais do plantão, sessenta reais do rodízio, 10 reais do flanelinha, e duas horas esperando o seguro levá-lo embora para casa.

Só Dói Quando Rio

domingo, 13 de dezembro de 2009

A morena Encantadora



Álvaro Neto alcança o corredor principal daquele monstro. Com Nove andares, porém com uma estrutura de gigante, aquele hospital de Niterói abrigaria uma maravilhosa sensação para Álvaro Neto.
O hospital vazio, por ser feriado, trazia setores sem ninguém. As copeiras com os carrinhos pelos corredores, O sol que espiava pela janela e começava a entrar pelo lado esquerdo do prédio, que dava com a concessionária.
Álvaro Neto começava o plantão já cansado. A vida de plantonista de ser ping e pong cansa por demais. Preferia a vida de um único emprego com certas limitações financeiras a essa correria e o gasto impensado do dinheiro que entrava. Porém estava no ciclo vicioso.
Quinze minutos de atraso vem pelo corredor a morena jambo de cabelos escuros longos, olhar penetrante, lábios carnudos. Uma roupa branca dignamente branca, colada, mostrando a todos as valorosas curvas daquele ser chamado Paola. A técnica de Enfermagem Paola.
__ Bom dia__ dizia a morena deixando perceber sua língua com um mili segundos em que Álvaro Neto parou no tempo. Já tinha visto aquele ser antes.
Álvaro Neto tinha que depositar até o meio-dia o valor para participar da avaliação que teria. Um trabalho fantástico a bordo de um navio que sairia do Rio e passaria por ilha grande, ilha bella e voltaria ao Rio.
Aquela morena estava no banco. Todos do banco não conseguiam parar de olhar para ela. Naquele dia sim com mais tonalidade na roupa, deixando ver seus ombro com uma blusa que todos tentavam tirá-la com o olhar. A tiracolo, um rapaz branco de aproximadamente um metro e sessenta e alguma coisa.
Os dois abraçados na fila do banco. Ele com um ar despreocupado, lançando aos demais presentes a certeza que aquela linda morena era fiel. Faltando apenas a plaquinha” pertence a..”
Hoje sim ela estava lá, livre. Exuberante para a gama de fãs que estaria em contato hoje. Seu setor era a pediatria, estava ali por força do destino. Uma ligação no meio da noite a intimou.
__ Paola..você me deve um favor. Faça para mim.
__ Faço.Nossa como você é, hein!
O destino uniu Álvaro e Paola ali naquele dia, nem que fosse apenas por um plantão.
Este sim decorreu em uma tranqulidade absurda. Marasmo total, sem nenhuma intercorrência. As duas outras técnicas do plantão e mais antigas. Estavam descansando em um outro setor. Um acordo entre equipe proporciona esses tipos de benefícios. Muitas vezes exagerados e outras absurdamente exagerados. Enfim, estavam lá os dois a sós.
__ Você mora onde?
__ Barreto e você?__ Disse Paola
__ Fonseca!
OS dois já estavam perto demais. Conversavam bem baixo para não incomodar ninguém. Vendo de longe, parecia até que os dois já estavam mal intencionados. A conversa evoluía de uma maneira assustadora, até chegar no assunto ideal.
__ Meu noivo esta deixando muito a desejar.
__ Como assim?__ disse Álvaro Neto, sabendo que quando alguém fala desse jeito do companheiro para outra pessoa, algo já esta mal encaminhado.
__ Ele me deixa em casa para ver futebol.
__ Chii
__ Me deixou esperando mais de duas horas esses dias ai, porque estava esperando um amigo chegar para marcar algo que nem me lembro mais de tão importante que era.
Álvaro Neto lançava um veneno após o outro. Ora uma mão no rosto, ora uma mão no cabelo que esticava até o pescoço. De tão perto que já estavam, Álvaro Neto esticou um pouco o pescoço e deu um beijo em Paola.
__ Vem aqui__chamou- a!
Levou para o quarto de descanso da equipe. Lembrou que as duas outras pessoas estavam longe dali. A maioria dos pacientes estavam vendo um jogo pela televisão e poucos incomodariam qualquer ação dos dois.
__ Loucura isso!!__ disse Paola com um sorriso doce.
Álvaro possui aquele corpo antes de outro ali em seu ambiente de trabalho. O cansaço deu lugar ao ânimo. A medida que uma peça de roupa saia, seu coração mais sangue injetava.
Não pensou em supervisão ou em um paciente chegar. O impulso dominava aqueles corpos. Ela também esqueceu de tudo. Baixou o sutiã e deu de presente seus seios ao deleite dos lábios de Álvaro Neto.
__ Perfeitos__ pensa em todo o momento __ ela é toda perfeita.
Com certeza Álvaro Neto estava certo.Ela era perfeita. Um jogo de perna incrível, um rosto delicado e ao mesmo tempo provocante. Não tinha como negar. Entregues ali ao prazer atingiram ao clímax, entre sussurros naquele gigante.
Tempos depois, rolava uma nota pelos corredores de tudo que tinha acontecido. Ninguém prova e ninguém desaprova. Na verdade, todos queriam estar ali, sentindo a adrenalina correr pelo corpo e dando lugar ao prazer monstruoso..
Nunca mais se viram. Dizem até hoje que Paola ainda está com seu noivo. Dizem até hoje que ela lembra-se daquele quarto de descanso.
Ainda hoje aquele quarto deve dar arrepios.

Só Dói Quando Rio

domingo, 6 de dezembro de 2009

Neves




Era certamente um dia perfeito. O mar com ondas fortes e a água com aquela sua cor característica. Deitava-se na areia, com seu corpo bronzeado , seu jogo de biquíni amarelo com listras azuis e sua cicatriz em seu joelho direito, Daniela Abreu.
Aparentava ter vinte e poucos anos, pelo seu formado corpo e seu jeito de mulher, mas ainda possuía dezoito anos. Apenas dezoito anos.
Seu pensamento no vigor da vida, pelo esforço de manter-se viva. Com a morte do pai, que já faz quatro anos, passou a ter uma responsabilidade grande dentro de casa, pois sua mãe, atordoada pelo excesso de trabalho, mal tinha tempo de cuidar do outro filho mais novo. Secar cabelo, cortar unha, ir em reunião de escola e ouvir as perguntas do pequeno Danilo, ficavam ao cargo da Daniela.
Apesar dos dezoito anos, Daniela tinha experiências de mulheres com mais idade. Aos quinze sofrerá um grave acidente que rompeu um dos tendões do seu joelho direito. Permanecerá na cama por alguns meses.
Depois da morte do pai, sua mãe conhecerá um outro homem que passou a viver na sua casa. Daniela mudará seu modo de agir. Passou a ser mais calada. Chorava quando dormia e quando acordava. A mãe sempre dizia as amigas.
__ Saudades do pai.
Daniela sentia sim saudades do pai, mas a falta do respeito do pai. O seu padrasto abusou sexualmente de Daniela por um período. Até que um dia sua mãe chega mais cedo em casa do que o habitual.
__ Meu Deus!
Encontra seu namorado estendido no chão da sala. Com o prato de comida espalhado pelo seu tapete e o copo ainda agarrado na sua mão.
__ Infarto agudo do miocárdio__ foi o que estava escrito na certidão de óbito.
__ Ele era cardíaco e tomava um monte de remédio__ dizia a mãe de Daniela para suas amigas no enterro
Daniela chorou no enterro. Foi uma comoção entre os amigos da família com mais essa tragédia. Daniela tinha saído a pouco tempo de casa.
__ Melhor assim. Eu que encontrei e não as crianças.
Tempos entraram e Daniela conheceu Neves.
__ Quem?__ o leitor pergunta.
__ Cocaína__ dizia o médico na emergência__ a quantidade foi grande e ela teve sorte de não ter tido algo pior.
Sua mãe ergueu a mão e passou em sua cabeça. Retiraram o soro que estava pendurando pelo seu braço esquerdo. Foi caminhando de volta para casa com auxílio daquela mãe. Que perdera o marido e o namorado. Se bem que esse último, sem ela saber, abusava sexualmente de sua filha.
Daniela ficou vítima das drogas. Abusava de si mesma agora. Não mais necessitava culpar ninguém pela tristeza que nutria seu olhar. Agora era com ela mesma.
__ Não tenho dinheiro__ dizia sua mãe__ você tem que se tratar Daniela.
Sua obsessão pela cocaína estava ultrapassando os limites. Até seu corpo voltou a ser usado para a compulsão.
Daniela queria a morte. Deitou-se na areia quente de Piratininga. Seu biquíni amarelo com listras azuis. Seu cabelo escuro beirando pela testa uma parte dele. Olhou para duas crianças correndo ao seu lado. Pelo reflexo do sol, viu uma poça de água à sua frente. Miragem. Conhecia bem essas anexos da realidade. Miragens, alucinações, delírios. Cocaína mata.
Na tarde que o namorado de sua mãe chegou do trabalho, Daniela estava lavando a louça para sua mãe. O vestido preto que vestia, logo foi levantado pelas mãos daquele homem que ela aprendeu a detestar.
__ To te querendo__ a voz daquele vendedor de planos de saúde entravam pelos seus ouvidos.
Daniela ofereceu o seu almoço. Macarrão ao molho branco e suco de pêssego. Para a sobremesa já tinha avisado.
__ Pudim de morango.
A cada garfada o olhar de Daniela entrava no corpo daquele homem de um metro e oitenta de altura. Cabelos escuros com um pouco de prateado pelas laterais.
Ele com um mínimo de percepção e um último insith, ainda pediu pelos remédios que estavam no armário da cozinha. A crise veio muito forte. As dores no peito pareciam garras que lhe queriam arrancar o coração.
Eram as garras da Daniela, que há um mês atrás conseguiu uma droga que fazia efeito contrário a todas medicações que ele tomava para prevenir o infarto.
Daniela chorou no enterro para as pessoas. Sorriu para si. A cocaína mata e Daniela também. Conseguiu toda a medicação com um rapaz que trabalhava em um laboratório e que também era viciado em cocaína. Trocou sexo e cocaína por uns comprimidos.
O sol apertava mais forte. Ela puxou a canga que a defendia da areia quente. Colou a mini vestido. Perceptiva nas ondas que batiam e voltavam, que não se entregavam a fortaleza da praia. Decidiu-se não abusar mais de si. Lutou.
Daniela entrou para o NA perto de sua casa. E hoje já faz dois meses que ela não se encontra com Neves.

Só Dói Quando Rio

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A Carta







Álvaro Neto segurava aquela pequena folha de caderno sem saber como a entregar. Suas linhas tortas, de caneta preta. Manchada na parte final, meio amassada, como se alguém tivesse pensado em jogar o papel fora.
Entrou na emergência uma jovem de aproximadamente vinte e oito anos. Seus olhos fechados, desligados de todo ambiente eram abertos pelos plantonistas que estavam naquele momento na sala de trauma, daquele pequeno hospital, daquela pequena cidade.
Toda atenção da equipe voltou-se a jovem, quando alguém que a acompanhava, disse:
__ Eu achei esse vidro de chumbinho do lado do corpo dela.
Ao monitor uma linha com um traçado irregular circundava todo o perímetro da parte central. No canto esquerdo cinquenta e cinco era o batimento cardíaco.
__ Saturação de sessenta__ disse alguém que configurava o monitor.
__ Isso não é bom__ disse alguém no fundo da sala.
A concentração de oxigênio estava baixando. As miofasciculações começavam a desenrolar pelo seu corpo, tremores como choques elétricos incontroláveis. A diarréia vinha confirmando.
__ Foi real mesmo!
Algumas pessoas entram nas salas de emergências com histórias de ingestão de chumbinho. Param equipes, fazendo-as perder tempo, quando na verdade o que a pessoa queria era chamar atenção. Não ingere nada do chumbinho.
Ela estava jogada no sofá. Pegou um copo de água que estava na cabeceira. Ligou a televisão.
__ O mercado financeiro em alta, especula-se...__ trocou de canal!
__ Chega essa semana no litoral, uma tempestade de grau cin..__ Preferiu desligar a televisão.
Subiu para o quarto. Quantas coisas passavam pela sua cabeça. Ela querendo desvencilhar-se de tudo que tanto a incomodava. Impossível. Pareciam vozes que não paravam de gritar um instante em sua mente.
“acabou...acabou”
Sozinha, tenta colocar a cabeça contra o travesseiro. Desliga as luzes do quarto. Tenta ligar o som e não consegue. Pega uma caneta, gira o corpo e rasga uma folha de um caderno velho que ficava sempre em baixo da cama.
“__ Você acumula esses cadernos velhos cheios de rabisques em baixo da cama para quê?”__ lembrou do que sua mãe sempre dizia quando via aquele velho caderno.
“Queridos pais. Não sei o que acontece comigo. Tenho tudo que poderia ter. Preciso me desligar de tudo isso.Não quero choro. Sorriam, agora sim estou feliz. Meu caminho traçado. Na verdade acordei foi hoje, talvez tivesse dormido de mal jeito, não sei. Mas o importante é que a vida é outra coisa do que isso aqui. Passou. Acabou. Regassou. Estrapolou.E ai de mim saber algo a mais do que eu sei. Possivelmente seria algo que deixasse em cabeceiras empoeirado como livros rasgados sem páginas finais.
Sou a estrela que está atrás do sol. Sou o artista sem arte. Sou o todo sem a parte
Acho que não sou ninguém. Deixei o cigarro aceso até a última ponta dele
Queimou o colchão e permaneci intacto até o momento de atender o telefone. Mudei de lado, não sei, não percebi. Só sei que morri. Só sei que não percebi. Só sei que deixei de saber. Só sei que morri quando passei a viver. Hoje encontro um reflexo de algo que poderiam deixar em um vidro completo por formol.Deixaram-me em uma caixa em baixo da pia da área da piscina. Quando abri, não era para mim.”
Álvaro Neto segurava aquela carta que estava dentro do bolso da calça daquela jovem. Tanta vida pela frente. Seus pais atordoados, não conseguiam ler a carta. Agarravam-se em um sinal de desespero.
__ E agora?__ dizia o pai.
O corpo foi levado para o IML. A carta foi junto com os pais. Álvaro Neto apenas não entendeu o sorriso no rosto daquela jovem no seu último segundo de vida.

Só Dói Quando Rio

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O eterno aprendiz







A maca estava perto da porta c da emergência. Sua saída dava-se ao pátio externo. Constituído de banco, a biblioteca e uma banca de jornal.
Álvaro Neto aproximava-se daquele jovem com aproximadamente 21 anos. Pele clara, olhos claros e um olhar triste. Na verdade, o rapaz negava-se a si mesmo estar ali. Esperava algo a mais da vida, que talvez não fosse ter mais.
Seu joelho esquerdo tinha sido vítima de um tiro de fuzil, que fora disparado do alto de uma laje de uma favela da zona norte do Rio de Janeiro. O tiro saiu de um fuzil militar. De um soldado da polícia militar em uma incursão nessa favela.
Com um orifício que dava para entrar uma mão inteira no seu joelho, o rapaz ainda teve força para correr por entre vielas com sua 9 milímetros e ainda tentar acertar dando o troco do seu prejuízo.
__ Perdeu!__ disse o policial apertando o fuzil contra sua cabeça, logo depois que o jovem caiu no chão.
Chegou no hospital e foi direto para a cirurgia e depois estava entregue nessa demorada e dolorosa recuperação. Já tinha decorado o que todos lhe diziam:
“ você sabe que seu joelho não vai ser a mesma coisa, talvez não conseguirá andar sem muletas”.
O joelho é a sustentação do corpo. Algo desprovido de beleza, que muitas vezes é comparado ao rosto de criança quando nasce. Joelho a base de sustentação do corpo.
__ Bom dia..
__ Bom dia
__ Meu nome é Álvaro, vim fazer seu curativo.
Os dois começaram a ter uma conversa bem monossilábica. Baseada no sim, não e talvez.
__ Você esta sentindo dor?
__ Não.
Ora era o rapaz que perguntava:
__ Vou conseguir me recuperar rápido?
__ Talvez.
E aos poucos começavam amadurecer uma conversa de verdade. Álvaro começou bem simples. Olhou para aquela algema que prendia seu braço a maca.
__ O que aconteceu?
__ Tiro.
__Isso eu sei... mas como desenrolou?
O rapaz contou passo a passo. Desde a comitiva recepcionista que dera à polícia até o momento que tinha caído.
__ Na hora não doeu nada, consegui correr com minha perna pendurada.
Álvaro escutava e continuava a conversa com aquele bandido. Bandido mas ser humano. Álvaro não gostava de bandido. Acreditava e falava que bandido nunca teria misericórdia por ele ou por sua família. Sempre disse que se fosse para escolher, seria ele ou ele, nada de bandido. Mas aquele momento era diferente. Não era ele que naquele momento do seu exercício profissional iria virar as costas ou realizar algo com alguém, sem ao menos conversar. Escutar. Deixar o outro falar.
__ O que você é lá na sua comunidade?
__ sou o que?
__ É;..gerente..dono???
O rapaz riu, puxou o suco que estava no canto, esticou para Álvaro:
__ Abre para mim?__ deu um gole no suco de uva__ Sou nada. Sou apenas o cara que fica fazendo segurança. Não sei para que essa algema. Ninguém vai vir aqui me resgatar.
Por toda a conversa sempre ficava um policial de escolta.
__ Arrepende-se?
__ claro..ficar com a perna pendurada...é bem complicado.
O que deixava Álvaro bem curioso, era a ausência de gíria. Nada. Até ouvia-se um : “fi-lo” “A bala atingiu-me”.
__ Não pensa em sair daqui e mudar não? Acordar cedo pegar ônibus, ir pro trabalho..atender polícia, estudante, dentista...qualquer um..receber seu pagamento..ir parta casa. Poder sair de casa sem medo de carro que venha em seu sentido com as luzes piscando?
O rapaz olhou para Álvaro e disse bem baixo.
__ Agora? Olha como estou.
Álvaro ficou quieto. Deixou algo na mente daquele jovem. Ainda conversaram sobre legalização das drogas, futebol e emprego no país.
__ Pronto acabei.Qualquer coisa é só chamar.
__ Posso te pedir algo?
__ Pode!
__ Traz algo para eu ler.
Álvaro sorriu e deu as costas. Voltou depois de cinco minutos com um pequeno livro azul Tendo a certeza que aquele rapaz não iria lê-lo, deixou o dia correr em seu espaço, tempo e pessoa.
No final do plantão, Álvaro tendo que ir no banco, passou pelo rapaz e para sua surpresa, estava o rapaz virado para o lado da parede lendo o tal livro. Quem passasse pelo rapaz poderia ler o que estava escrito na capa.
“ Bíblia Sagrada”

Só Dói Quando Rio

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Tiro Certo





Ele olhava para todos naquela pequena sala. Álvaro Neto, segurava seu braço apertando-o, em uma sensação de pulsação em seu pescoço mútuo. Segurava seus olhos, porque pareciam querer, por conta própria, fechar em uma força quase que impossível de suportar.

Seguiu com os olhos o homem de jaleco impecável branco que circundava a sala, apoiava as mãos em uma pequena mesa, e abria um pacote de luvas. Apontou o dedo indicador para seu corpo em uma fração de segundos tentava colocar o dedo na junção das duas clavículas, no centro do seu peito.

__ Porra como esses filhos da puta conseguiram acertar aqui. __ dizia o homem do jaleco branco.

Há vários projéteis de arma de fogo. O fuzil, por exemplo, tem um pequeno furo no local de entrada e um outro imenso no local de saída. Já uma pistola, apesar de mortal não faz tanto estrago na saída. Mas em certos locais do corpo humano, ela é mortal.

__ Cento cirúrgico..pode levar__ disse um dos médicos presentes.

O residente da cirurgia de um lado e Álvaro Neto pelo outro lado, subiam com o sargento da PM baleado perto do pescoço, para o centro cirúrgico. O maqueiro foi na frente para chamar o elevador. Da pequena sala de trauma até o elevador são no máximo uns vinte metros.

O elevador chegou, tinham duas pessoas dentro, e a maca não permitia que eles saíam e nem as pessoas no elevador, que a maca entrasse no elevador.

Em uma fração de segundos. A cor branca do sargento e sua alma pareciam não estar mais ali. Álvaro Neto olhou para aquele corpo, com aquela roupa cinza e mergulhada no sangue vivo.

__ Parou..volta...volta...

Voltaram para a sala de trauma o sargento.

Psvchein significa soprar em grego. Que também é uma palavra ambígua que no seu significado original era alento, que posteriormente sopro. Alento sendo uma das características da vida, a expressão psique ( psvchein), foi utilizada como expressão de alma. Do principio da vida. Mas desse caso, o final.

No dia do casamento de sua filha de dezenove anos, aquele sargento de quarenta e cinco anos, estava segurando plantão para um amigo seu, que foi deixar um parente no aeroporto. Hoje foi dia de incursão em uma das favelas de um grande complexo de favelas do Rio de Janeiro. Um tiro entre ruelas da favela, atingiu aquela região tão frágil. Sua voz foi calada, seu olhar apagado. Mas seu ouvido ainda estava atento.

__ Bisturi..rápido..

__ Acerta ai..vai puxa...isso..bem abaixo da costela..isso..rasga..puxa...issooo.

Um corte pelo lado esquerdo do corpo do sargento foi levado até o esterno, separando a caixa torácica em duas. Os coágulos pulavam. Sangue para todos os lugares. Uma importante artéria foi atingida. Aquele corpo aberto foi levado para o centro cirúrigo.

Um dos cirurgiões apertou um dos pulmões que se reduziu a um saco de supermercado apertado, por causa do sangue do bife que pulava pelo chão da casa.

__ Segura esse acesso..mais líquido..__ gritava o cirurgião completamente lavado de sangue, seu antigo branco tornou-se vermelho.

Até o centro cirúrgico o seu alento subia. Uma das mãos apertava o pulmão para evitar a hemorragia. A outra massageava o coração. Massagem cardíaca interna. A mão do homem direto naquele órgão tão importante e tão frágil.

Aquela bala tirou mais uma vida. Um homem de um metro e oitenta de altura. Duas filhas e uma festa de casamento esperavam-o.

A polícia saiu do hospital com um sentimento de perda no coração. Todas as sirenes ligadas. E uma certeza na equipe, teríamos a volta deles. Não demorou muito é três corpos chegaram. Ambos cobertos de furos. É essa guerra entre a vida e a morte.

Só Dói Quando Rio

sábado, 25 de julho de 2009

Só dói quando Rio

A Despedida



Álvaro Neto sentia, já na entrada da rua, um clima com ar de tristeza. As pessoas em volta da ambulância verde, a espera de notícias. Um homem de jaleco branco fechava a porta lateral da ambulância e entrava prédio sem olhar para trás.
Seguro que sua amiga, Ana Cláudia, estava naquela ambulância, Álvaro Neto foi parando o seu carro e ainda com seus pais dentro do veículo, correu para ver como ela se encontrava.
Seu olhar se deparou com a mais triste de todas as imagens que ele já tinha presenciado.
Ana Cláudia com seu olhar triste entregue na maca da ambulância tendo em seu braço esquerdo, a entrada de um jelco percorrido por um soro que estava pendurado na parte de cima da ambulância. Seu rosto coberto pela névoa da máscara de oxigênio e sua testa embebida das lágrimas de seu filho, Lucas de 13 anos. Suas mãos juntas, quase que unidas, mantinham-se na direção do coração de Ana Cláudia, parecendo que os dois tentavam transferir força um ao outro, mas que os dois pareciam saber que tudo isso seria em vão.
Há mais ou menos três anos a trás, Ana sofreu um período de amnésia e ficou internada em um grande hospital para tratamento e diagnóstico do problema. Duas semanas depois, o problema já estava identificado: Tumor cerebral, de mais ou menos do tamanho de uma azeitona.
Aos poucos, Ana Cláudia tinha que voltar ao hospital. Em um último exame, tinha vestígio do tumor em mais dois lugares: Fígado e Estômago.
Álvaro Neto mal conseguia entender o teor daquele momento. Mãe e filho em uma despedida silenciosa. Poderiam ter falado tantas coisas. Tantos momentos. Várias lembranças. Risos ou choros. Mas apenas o olhar era o presencial dos dois. Sentiam mais do que falavam. Estavam ali, frente a frente. Um passo a não se verem mais.
Ana Cláudia foi transferida para um hospital particular e dois dias depois veio a falecer.
Essa cena foi mais uma facada nos sentimentos de Álvaro Neto com toda essas cenas de mortes, dor e desespero. Para que não vive essa vida, aquela cena foi apenas uma despedida. Para Álvaro Neto foi uma aviso: Essa vida não te pertence.
Ele precisava sair de qualquer maneira desse mundo de sangue, dor e despedidas.

sábado, 13 de junho de 2009

A Escolha de Manoela



A música alta quase que ensurdecedora trazia uma margem de prazer. As luzes que giravam m por toda a parte do ambiente, mudando de cores a todo instante. Os olhos ora roxo ora brancos, traduziam o espírito do lugar.
Pessoas vindo e voltando. Girando e pulando. Umas sozinhas e outras em grupos. Aquele ambiente fechado.
Seguranças caminhando com seus ternos pretos olhando em direção aos grupos, espalhavam o sensor da procura do algo errado.
O cheiro de cigarro misturava-se ao do álcool. A rede de prostituição espalha sexo e doenças. As drogas são passadas de mão em mão. Enquanto os pais estão deitados em suas camas em baixo dos cobertores,os traficantes estão abraçando os seus filhos.
Quase crianças pulando sem direção e sem olhar definido. As mãos para o alto apontando para os canhões de luzes que espalham adrenalina junto com o chão que treme a cada batida. O suor das pessoas que passam não incomodam quando permanecem na madrugada nesse ambiente rico de desejo e sensualidade.
O poder de sentir-se superior. De ter a sensação de poder com tudo, faz com que as pessoas percam o medo.
E o medo é o regulador da dor. Da perda. Da morte.
As boates e as raves são os pontos de encontro. A prostituição, a droga e a vontade de se libertar levam milhões de jovens a um mundo sem volta. Gravidez indesejada, doenças incuráveis, vícios e acidentes por culpa do álcool e de outras coisas mais.
Foi assim que Álvaro Neto conheceu Manoela, não em um lugar desses mas sim em um enfermaria, de um hospital universitário. Mas especificamente : Setor de Doenças Infecto Contagiosas.
Manoela recebeu do pai um belo carro de presente por ter passado no vestibular. Aos dezenove estava com carro nas mãos e passe livre nas boates. Viciada em cocaína desde os quinze anos não perdia uma noitada.
A noite começava quente. Cerveja, cocaína e ecxtase. Conhecia sempre lindos rapazes perfeitos. Manteve relações com vários pelas noites a fora. Não mantinha a clareza do que estava acontecendo mas seus sentidos afloravam-se a cada toque, a cada olhar a cada gosto.
Ninguém tem a nítida noção do que é isso tudo que você está lendo. Loucura? Talvez sim, de se importar com quem agride o seu próprio ser colocando-se de ponta cabeça ao abismo.
Preservativo custa menos de 2 reais. Agora o tratamento que ela está passando. A dor que está sofrendo e a certeza que o HIV não tem cura.
Onde estão as luzes? Onde está a música? Manoela está internada há dois meses. Álvaro presenciou suas últimas horas de lucidez.
Certa noite a ambulância chegava no hospital levando aquele corpo. Manoela fez a escolha de mutilar seus sentidos. Manoela entregara-se a morte!
Manoela morreu aos vinte anos. Vítimas de complicações de uma infecção no pulmão.
A sociedade prepara o crime, mas é o ser humano que comete. As pessoas deveriam ajudar as outras. Mas muitas vezes parece que elas estão ali para prejudicar. Atrapalhar.
Manoela morreu pelo crime de sua estupidez. Manoela poderia estar ai lendo a sua história. Cuidado com suas escolhas!

sábado, 23 de maio de 2009

A Cegonha



Muitas coisas acontecem e nem sabemos que acontecem.
Você sabe o que é um aborto? Já viu? Sabe as maneiras que podem ser feitas?
O aborto é o ato da retirada do feto ou embrião até vinte e duas semanas de gestação. Após esse período
é homicídio. Ainda mais quando as duas garras em formas de um grande garfo penetram o útero tão protegido e como dois policiais com mandado de busca e apreensão agarram a cabeça da criança e retiram-o já morto ou agonizando.
A luta pela vida em uma tentativa frustrada. O mais fraco perdendo para o mais forte. Quem goza mata.
Quem gera oprime. Quem oprime mata. Quem mata merece morrer.
Natália olhou para a luz que descia do elevador, várias partes iguais. Uma a uma.
Sua menina no colo ainda sem nome, sem pai e sem destino. Caminhavam juntas por nove meses. Um ato cirúrgico a retirou de dentro e a colocou nas garras de um ser destrutível. O mundo.
O livre arbítrio da vida permite monstros serem chamados de geradores de vida. Fábricas de corpos que irão progredir em latões de lixos, caçambas de entulhos ou poços artesianos.
__ Um cigarro, por favor!
__ Tem 20 centavos?
Natália acendeu seu cigarro e caminhou em direção ao estacionamento.
Aos 2 meses de gestação tentou aborto com remédios caseiros. Com 4 meses de gestação tentou talo de mamão,
fazendo movimentos penetrantes, quando sangrou até sair um imenso coágulo, pensou :
__ Estou livre!
Errou! Aos 5 meses tentou aborto em uma clínica, mas seu fraco poder económico não tinha dinheiro nem para
a passagem do ónibus.
A criança nasceu e agora estava sendo enrolada em uma sacola de supermercado. Seu futuro era certo. Nada mais podia segurar a fúria encolhida de um ser como Natália.
Deixou o cigarro cair. Abaixou e deixou a sacola em baixo da roda de um caminhão de mudanças.
Saiu sem olhar para trás, sinal que pudesse demonstrar um pouco de ressentimento.
O motorista logo depois entrou pela porta. Estava atrasado. Engatou a chave na ignição. Girou e nada.
__ Não acredito..que essa geringonça não vai funcionar..??
Tentou, tentou e tentou e nada.
Saltou do carro. Girou o corpo e encostou em uma sacola verde que estava em baixo da roda esquerda. Ouviu um gemido.
__ O que é isso?
Seu olhar de surpreso misturou-se com uma alegria. Olhou para o lado e não viu ninguém. Sentou na calçada e chorou abraçado com aquela linda menina de olhos azuis.
Raquel, hoje, com 4 anos é a única filha do casal António e Paula. Paula teve que ser operada aos 19 anos.Fez umas histerectomia que é a retirada do útero, devido a um tumor.
O dom que ela não tinha outra teve não aproveitou. Os dois sonhavam em ter um filho. E Raquel foi dada de presente.
O amor não se acha. Se constrói.
Raquel é excessão em tantas atrocidades que acontecem. Crianças que são ejetadas do útero diretas no vaso sanitário e ainda são vistas pelas suas genitoras, descendo rodando para a morte. Agonizam até seus pulmões encharcarem de água.
Crianças que são cortadas ao meio pelas lâminas afiadas das pinças que penetram no útero e arrancam a vida em construção.
É o homem em luta com a vida. É o homem em luta com Deus.
Você daria descarga em uma privada, nela contendo seu bebê ainda com vida? Você daria a luz e colocaria seu filho debaixo da roda de um caminhão, coberto por um saco plástico?
Não? Muitas pessoas fazem isso!
Não seja o próximo!

SÓ DOI QUANDO RIO

terça-feira, 19 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Dez "Real"




A exaustão tomava conta do corpo de Álvaro Neto. O suor seco corria pelo corpo até o encontro do chuveiro. A água quente dava uma trégua em toda a adrenalina.
Ele tinha um tempo para dormir. Ele aproveitou esse tempo para dormir. Ele deitou eram 9h da manhã. Acordou às 10h quando o rádio despertou seu sono.
__ 04 na escuta!
A voz metálica fez seus olhos abrirem. Ele estava em outro lugar.
***
A pena de pavão no cabelo e a fumaça do cigarro, davam o ar de uma rebeldia. Uma linda rebeldia.
Cíntia com sua estatura alta, centrípeta com o copo de vinho em uma das mãos, torneada com cabelos bem tratados a pegar a luz do sol. Corpo moreno e olhos verdes. Esbelta de tirar o fôlego de quem visse.
A beira dágua, os peixes comiam os pedaços de pão que eram lançados. Do deque de madeira clara, um barman abaixava-se.
__ Sua coca senhor.
Álvaro suportava o calor forte com uma coca bem gelada.
__ Gelo e limão, por favor!
A mão da linda morena nos ombros de Álvaro. Seu cansaço contínuo era abrasado pelo afago da linda mulher.
__ Sabe o que eu não entendo Álvaro__ deu um gole no vinho__ esse seu jeito de pensar da vida. As coisas que você fala.
__ É mais fácil fechar os olhos do que ver as coisas que vemos Cíntia. Esse pavor dos sentimentos ergue nosso instinto de fuga.
Os olhos de Cíntia ficavam estáticos sempre quando Álvaro falava. Ela seguia suas ideias, mesmo que às vezes ela não concordasse. Ela o amava demais para saber algo contra alguma coisa que ele dissesse.
Álvaro fez algumas decisões que o levaram à lugares que ninguém pode voltar.
***

__ Na escuta__ Disse o condutor
__ A solicitação de atendimento é de uma paciente psiquiátrica que esta criando briga.
__ Anota ai o endereço__ disse o condutor para Álvaro, sem tocar o botão do rádio.
A ambulância saiu para o atendimento. Álvaro com sono ia na parte de trás da ambulância. O médico, um rapaz novo sem muita experiência, tinha a fama de sempre enrolar em todas as saídas. Ninguém gostava de trabalhar no seu plantão.
__ É por aqui!__disse o condutor.

__ Mas eu não to vendo nada de estranho__ disse o médico.
__ Isso que é estranho, não ter nada acontecendo nesse inferno de Rio de Janeiro__ disse Álvaro lá de trás com a voz rouca de sono sem saber o que eles estavam procurando.
__ Pera ai..pera..ali ali.. uma mulher gritando na portaria do prédio__ disse o médico.
__ Po camarada..podia ter dado última forma no evento e a gente voltava pra base..” Central..Central.. foi trote”__ disse Álvaro
__ Calma Álvaro!
Os três saltaram da ambulância.
__ Boa tarde__ disse o médico__ quem chamou o resgate?
A mulher e o homem que estavam discutindo olharam um para o outro.
__ Filho da puta__ disse a mulher aos berros apontando o dedo entre as grades do portão do prédio para o porteiro.
__ Eu?tá doida__ disse o porteiro com os braços cruzados.
O médico entrou na discussão, enquanto Álvaro sentava na calçada e colocava as cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos no queixo.
__ Gente..o que está havendo aqui?
__ Havendo doutor..? é que esse filho da puta me contratou ontem e não quer me pagar os meus 10 real...me usou e abusou e agora não quer pagar os serviço.
Álvaro olhou para trás, colocou a cabeça dentro do macacão e riu. Olhou para o condutor que não conseguia disfarçar os risos.
__ Calma gente..vocês não podem discutir assim
__ Calma o que??? Quero meus 10 real!!
A confusão instalada. Um paga e não paga. E ficaram ali por quase meia hora.
O médico teve a coragem de passar um rádio para a regulação falando sobre o evento.
__ Eu fiz com que o porteiro desse 8 reais para a prostituta. Ela aceitou e foi embora__ disse o médico para a central.
Álvaro passou o dia todo dizendo:
__ Quero meus 10 real!
A confusão acabou com o porteiro subindo, e a prostituta indo procurar seus devedores. A família do porteiro estava dentro do quarto dos fundos esperando a confusão acabar para sair.
Mas tudo isso é bem difícil de acreditar!
Vocês acreditam nisso?
Foi tudo muito engraçado e real!

sábado, 2 de maio de 2009

Só Dói Quando Rio

O Milagre



As luzes do quarto foram acesas. Os passos ráídos já foram suficientes para
despertar Álvaro Neto de seu sono tranquilo.
__ Álvaro_ a mão encosta no seu ombro e a voz o faz acordar de vez__ tem uma
mulher na sala de parto, com dilatação 8.Dilatação 8 está em uma escala de 0 a 10 onde 0 o colo do útero está fechado e 10 pronto para o nascimento.
__ To levantando.
Álvaro passa a mão no bolso tira um chiclete. Enquanto lava o rosto, tenta
se encontrar naquele quarto em penumbra. Olha no relógio.
__ Parto às três da manhã__ coça a cabeça__ sacanagem!
Fecha a porta do quarto e vai para a sala de parto que fica a uns 50 metros do quarto da Enfermagem.
Estavam duas técnicas de Enfermagem mais a plantonista da clínica. Cidade do interior as pessoas estão acostumadas em ter parto normal. Apesar de todo o lado positivo e das campanhas do governo, Álvaro sempre achou que ali não tinha nada de normal.
__ É anormal uma criança tão grande sair por um lugar tão pequeno__ sem
pre dizia isso em todos os partos.
__ Faz força vamos lá, já fiz o corte para te ajudar_ dizia a médica com a
paciente já posicionada na mesa.
__ Ai..ta doendo muito.
Dezesseis anos é uma idade boa para começar a descobrir o mundo, Escolher uma profissão e não esta as três da manhã com as pernas abertas pronta para ter o seu segundo filho.
___ Vai ..vai já esta com a cabeça para fora.
A dor imensa fez a jovem desmaiar. O desespero na pequena sala de parto foi geral.
Tapa no rosto. Água gelada. Até que com uma última força, a jovem conseguiu
expelir a criança.
Sem nenhuma dúvida a médica disse.
__ Feto morto!
A criança agora nos braços de Álvaro, sem vida e junto ali todo um trauma que Álvaro carregava por toda sua carreira. Medo de ter que lidar com a vida de uma criança. Aquele ser tão pequeno e frágil. Arrepio.
__ Vamos aspirar_ dizia Álvaro
__ Aspirar para quê?__ disse a técnica virando o corpo e pedindo para a avó da criança sair da sala__ não ouviu a médica dizer?
Álvaro sem saber o porquê, manteve o procedimento. Iniciou a manobra de
ressuscitação com seu dedo polegar. Apertava o minúsculo peito da criança com toda
sua força mental. Seu espírito evocava o retorno daquela alma. Álvaro não parava.
__ A placenta já saiu__ dizia a médica__ inteira!
Todos já ajeitavam a sala. Arrumavam aquela bagunça. Uma técnica já tinha voltado para o quarto.Poderia descansar mais um pouco. A médica arruma sua roupa, tirando o
avental de cima. Quando um choro paralisou todos na sala.
__ Ta viva__ dizia Álvaro__ ta viva Porra!
Todos correram para a criança. Ele já tinha aspirado e mantinha a massagem. Agora levou até o berço aquecido e deixou no oxigénio. A cor de roxa transformava-se em rosa.
Todos ali voltavam-se à criança, e a vida ressurgia naquele corpo. Dali, todos tiveram duas certezas sobre a vida:
Só acaba quando termina.
Só Deus diz quando termina.

sábado, 25 de abril de 2009

Só Dói Quando Rio

O Doador



Vitor Júnior. Cirurgião de renome, comparecia todas as sextas-feiras na boate SexyRam, na Gávea. Sua arrogância ultrapassava todos os limites suportáveis.
A boate Sexyram é um local de pessoas de renda financeira alta. Conhecida como o “ portal do sexo”, a boate era vista como uma casa para pessoas de alto nível para a prostituição e trafico de droga, principalmente o êxtase.
Vítor estava com os seus 45 anos. Apresentava-se sempre bem arrumado e com sua pulseira de ouro claro. Tinha um Toyota Hilux. Morava em Ipanema e seus pais, também médicos eram herdeiros de uma família milionária. Seu esporte
predileto era cirurgia cardíaca.
Conheceu uma linda menina, que deveria ter uns 22 ou 23 anos. Saíram da boate para o motel stylus. Ele sempre muito prevenido, com vários preservativos de vários sabores e cheiros. Sempre com sua garrafa de sua vodka predileta
“Smirnoff Citrus”.
Tudo muito bem, entraram na suíte de luxo, e Vitor foi preparar a banheira e se refrescar em uma ducha,
enquanto a linda morena preparava a bebida nas taças.
__ Um brinde à nós!
Um estalo das taças, e Vitor desce o corpo no corpo da morena. Acorda com seu corpo imerso na banheira,
com gelo por todos os lados, acorda com uma dor muito forte nas laterais do corpo.
Gira as mãos e percebe fios de sutura em seus corpo. Ergue a cabeça e consegue caminhar até a cama, e enxerga
o telefone.
__ Recepção?...Uma ambulância rápido.
Com dois cortes cirúrgicos, foram retirados os seus dois rins. Sobreviveu graças a uma sorte imensa e a habilidade de quem fez a cirurgia em um quarto de motel.
tráfico de órgãos. Muitas pessoas nunca ouviram falar nisso, porém muitos sequestros que nunca foram resolvidos, provavelmente terminaram em uma cirurgia dessa.
Vitor ficou internado por alguns dias na UTI em um dos hospitais que ele trabalhava. Faz hemodiálise até hoje e está na fila de transplantes.
Você não acredita não é?
Quanto você acha que custa um rim?
Se precisasse...Quanto você pagaria por um?

sábado, 4 de abril de 2009

A Troca


Alex era um cirurgião geral de uma clínica em Niterói. Com seus 33 anos, era considerado
por muitos, o diamante do hospital. A maioria conhecia o banco traseiro do carro dele
e a cama do seu apartamento no Ingá.
Clodoado, um anestesista de 68 anos, era um grande parceiro de trabalho
de Alex. Passavam grande parte do trabalho juntos em cirurgia.
__ Po Alex..agora a a esposa quer mudar toda a decoração da casa!
__ Você tem dinheiro..pode!!
Certo dia depois de uma cirurgia, os dois estavam no vestiário do estar
médico conversando sobre medicações para melhorar a potência sexual.
__ Alex..essa aqui é a azul de Lís..Viagra.
Alex olhava o comprimido azul que estava fora de um envelope. Enquanto
o Clodoaldo guardava seus anti-hipertensivos, analgésicos e anti hipoglicêmicos na
caixinha divisória de medicamentos. Tinha também um medicamento que era usado como pré
sedação o dormonid, que por conscidência era azul e faz a pessoa dormir e relaxar antes da cirurgia.
Os dois conversavam e em um lance sem intenção, eles trocaram esses
dois comprimidos: viagra por dormonid.
__ Clodoaldo..to indo porque hoje vou sair com aquela menina daquele site..
lembra a que eu te disse?
__ Lembro sim.,.vai lá...boa sorte!!
No outro dia encontraram-se na hora do almoço.
__ Porra Clodoaldo..maior merda cara..tu não sabe o que me aconteceu..
__ Imagino..porque você também não sabe o que aconteceu comigo.
Alex chegando no motel, enquanto a menina tomava um banho, ele
mergulhou o dormonid com um copo de suco para dentro do seu estômago. Amanheceu com
um bilhete “ obrigado pela festa” . Pediu a conta do motel que estava de saída.
“ R$ 1,553,00 reais.” ela tinha provado de tudo quanto era comida e de tudo quanto era
vinho. Enquanto em um docesonho, Alex estava largado.
--Rapaz..não sei se dei tanta sorte assim não..cheguei em casa, deitei
na cama depois de um banho quente tranquilizante e fui tomar minhas medicações, quando
tomei o viagra senti aquele calor, e minha mulher depois da quarta vez que eu a tinha
procurado se escondeu no banheiro e não saiu mais. EU sai de casa e ela não tinha
aberto a porta. Quase sem força e totalmente sem voz, me passou um bilhete com letras
tortas por debaixo da porta do banheiro :
" Me ligue quando sair do trabalho..se possível..não volte hoje"

Só dói quando Rio

sábado, 28 de março de 2009

O passe Livre













Os três carros pretos com a faixa dourada passavam pela estrada da Fróes. A alta velocidade, os vidros escuros fechados e os faróis acessos, davam o ar da ação.
A incursão da polícia federal tinha um objetivo: a prisão do médico Fábio Reis., no bairro Charitas, em Niterói.
Por escutas telefônicas e denúncias, a inteligência da polícia descobriu que Fábio emitia laudos falsos. Nesses laudos, seus falsos pacientes, eram declarados portadores de deficiência mental, hipertensão ou outras patologias.
A entrada do apartamento estava cercada. Os três carros pretos estavam em frente à saída da garagem.
Ao sair com seu Corolla vermelho, foi interceptado na porta do prédio.
__ Por favor, Sr. Fábio Reis Cunha..saia do carro.__ dizia um agente com seus óculos escuros e uma espingarda calibre 12 na mão.
O médico saiu do carro sem esboçar nenhuma reação. Sua filha no banco de trás olhava tudo sem entender.
__ O que está acontecendo_ perguntava Fábio.
__ O senhor está sendo acusado de uma fraude envolvendo passes livres. O senhor está preso.

Colocando tudo em seu lugar,
Para entender...
O médico Fábio Reis emitia laudos falsos para várias pessoas que não podiam, com a lei, ter passe livre aos coletivos. Essa gratuidade é dada às pessoas com necessidades realmente comprovadas.
Várias pessoas estão sendo investigadas. O grande passo à descoberta foi que uma funcionária da clínica que o médico trabalhava, esqueceu um envelope com seus documentos e mais o laudo.
Uma pessoa da limpeza entregou ao chefe imediato da funcionária. Em menos de 24h uma denúncia chegou à polícia, e com autorização da justiça, escutas telefônicas foram instaladas em todos os telefones com acesso do médico.
Outras pessoas estão sendo investigadas, mas o que mais incomoda é saber que as pessoas sujam o nome por até uma miséria por dia.
Você teria coragem de sujar o seu nome por uma passagem de ónibus? Muitas pessoas que estão sendo investigadas, responderam que nunca sujariam o nome por um passe livre.
Mais uma escolha errada.

Só dói quando eu rio

sábado, 21 de março de 2009

Só dói quando eu rio







Primeira semana do quadro :
Só dói quando eu rio












PAMÉ











O Colírio Milagroso



ANTÔNIO Mãozinha. Este era o nome do clínico de plantão no único pronto socorro do pequeno município do interior do estado do Rio de Janeiro. O município pouco falado, mas o clínico, todos no lugar já conheciam. Ele tinha uma mão com um problema devido a um acidente de carro. Ficou com a mão presa na janela na hora que o carro capotou várias vezes. Estava bêbado.
O seu trabalho era questionado por várias pessoas. fumava no horário de atendimento e muitas vezes foi trabalhar bêbado.Só atendia pacientes graves depois da meia noite, não queria saber de dor de cabeça, e sempre saia do plantão:
__ Abastecer o fígado, doutor, abastecer o fígado__ disse um morador ao delegado, quando
foi dar queixa de Antônio.
__Mas o que mais o senhor tem a falar desse médico?__ disse o delegado!
O homem sem muito pensar começou a contar a história.

horas antes
***
O homem entrava no posto, com a filha sentindo fortes dores no abdome. Chorava de dor.
__ Por favor ..quem é o médico que está atendendo?
__ Doutor Antônio..__ disse o recepcionista.
__ o Mãozinha???
O recepcionista sem jeito de concordar com o apelido, disse com um sorriso no canto da boca
__ É o senhor Antônio sim.
__ Ai Jesus, logo esse traste desse médico__ o homem passou a mão na cabeça e pensou " uma dor de barriga ele deve saber no mínimo como curar".
Entrou pelo pronto socorro com a filha e esperou no corredor. Não tinha ninguém na sua frente.
Mas o médico não chamava. Esperou por quinze minutos.
__ O próximo__ veio a voz do médico de dentro do consultório.

***
__ Entrei doutor, e estava aquele homem branco como uma vela.. em pé no final do consultório terminando de apagar o cigarro. Aquela mãozinha estranha.
__ MAs como foi o atendimento?
__ Eu entrei no consultório e..
***
__ Boa tarde doutor mãozinha!
__ ANtõnio.,..senhor..Antônio_ disse o médico já com uma voz alterada__ o que o senhor ta sentindo?
__ eu nada..minha filha que está com forte dor na barriga.
O médico analisou. Olhou nos olhos. Pediu para abrir a boca. Soltar a língua pra fora da
boca. pediu que falasse trinta e três. Olhos as pernas.
Começou a escrever e passou um remédio.
__ Enfermeira__ gritou o médico!

***
__seu delegado, eu tive vontade de quebrar a cara desse médico..
__ Mas por que meu senhor?
__ deixa eu contar..ai a Enfermeira chegou e...

***

__ Vamos lá Kely..o doutor passou um colírio pra você!
No mesmo instante o pai gritou.
__ Colírio?? Pros olhos??? ela esta com dor na barriga e o senhor passa um colírio??
O homem pegou a filha e foi pra casa dizendo:
__ em casa sua mãe faz um chá das ervas da tua avó e você fica de repouso.
A técnica com a ficha na mão olhou para o médico sem saber o que dizer.
__ Eu vi o olho dela tão vermelho que achei melhor passar um colírio__ disse voltando para sua cadeira.
Voltou a acender o seu cigarro__ o próximo!

sábado, 14 de março de 2009

O Tiro De 22


Paulo esperava por sua amiga de infância Júlia. Há tempos pensavam em fazer uma viagem juntos pelo litoral do Brasil.Essa amizade dava inveja a quem quer que fosse.
Cresceram ouvindo legião urbana, U2 e curtiram seus tempos de funk, forró e até o bambolê. Arriscaram nos cigarros e experimentaram o álcool e a maconha juntos.
Participaram de movimentos desde a escola até na universidade. Júlia era mais inteligente do que Paulo. Mas os dois tinham uma relação tão próxima que muitos achavam que os dois tinham que ficar juntos. Casar. Mas a relação era somente de amizade. Somente não.
Era amizade, que é o sentimento mais importante que deve haver entre duas pessoas.
Júlia vinha com seu vestido branco longo. Seu sapato alto aumentando ainda mais seu tamanho. Seus cabelos castanhos eram
empurrados pelo vento manso que aquela noite produzia. Seu perfume roubava o aroma de todos que mantinham aquele ambiente. Seus olhos fixos
em Paulo levantavam o seu corpo e uniam-se em um abraço forte.
Os dois sentaram. Conversaram por um longo tempo. Colocaram os papos em dia. Outro amigo de Paulo deixou uma bolsa com um
22 calibre curto. Era de um primo que ele deveria entregar.
__ Alô__ o telefone de Júlia tocou__ pode falar__ sua voz doce agora era dividida com a outra pessoa do outro lado do telefone
Enquanto Júlia atendia o telefone, Paulo começou a olhar o 22. Suas mãos passaram no por seu corpo escuro e deixou o dedo
no gatilho enferrujado. Por um período menor que um piscar de olhos, um deslize fez o dedo indicador escorregar no gatilho e um estouro
seco ouviu-se naquela tranquila noite.
Paulo olhou pro lado meio ainda com um sorriso pelo susto, quando viu Júlia caindo no chão. O único tiro do deslize atingiu a têmpora de Júlia arremessando o celular longe e seu corpo aos pés de Paulo.
O sangue vermelho vivo vinha em direção à Paulo. Seus olhos quase que dobraram de tamanho. Sua imensa reação de desespero foi
tornando-se um sequência de reações indescritíveis.
As pessoas que estavam ao redor correram para tentar ajudar Júlia, mas em vão não conseguiam nem um último suspiro. Morte
instantânea. Quando todos ouviram os cliques secos do 22.
__ Nenhuma bala....nenhuma bala.__ dizia ele com o 22 encostado em sua cabeça.
Os gritos de horror de Paulo contracenavam com as tentativas inúteis de acabar com sua vida. O 22 só tinha uma bala,
e as tentativas de suicídio de Paulo com o cano do 22 encostado na sua cabeça eram inúteis.
Qual o sentimento de Paulo? O que dizer disso tudo?

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Um Pedido De Socorro


As portas da sala de trauma se abriram. Era Fernando Castro, o plantonista chefe da noite. Ele foi chamado
para atender UM chamado às três da da manhã. A paciente sofria de bronquite asmática, e o problema seria uma súbita falta de ar.
Ao chegar no trauma, avaliou a paciente, que estava ofegante, com grande quantidade de suor. Suas palavras quase imperceptíveis, saíam de encontro à névoa do oxigênio que
estava recebendo.
__ Calma dona Cirene. Vai ficar tudo bem?__ disse o plantonista, examinando a paciente.
Ela sem conseguir muito dizer, balançava a cabeça em sinal negativo. Sentia fortes dores no peito devido a ausência de ar.
Álvaro Neto estava junto da paciente. Seguia as mensagens do monitor. Avançava frente a tudo aquilo que estava acontecendo. A paciente, por estar com grande
quantidade de suor, acabou perdendo o acesso venoso.
__ Aqui,...ta complicado aqui..__dizia Álvaro Neto tentando achar uma veia naquela pele clara e sudoréica.
Todos estavam perto da paciente, mas ninguém chegou a pensar que algo a mais iria acontecer. todos pensavam que ela iria estabilizar, iria ficar na macronebulização.
No outro dia iria ter alta. E todos ficariam bem. Mas esse algo a mais da vida e essa soberba do acaso, transforma tudo.
Por u,m piscar de olhos, a paciente deu uma piorada. A falta de ar piorou. A angústia pela luta ao encontro do ar é algo assustador. O esforço
do corpo em busca do oxigênio é algo indescritível.
__ Material de intubação..rápido__disse o plantonista!

__ Chama mais gente aqui_dizia Álvaro_ puxa ali o aspirador.
A confusão esta armada.
__ Ta sem acesso...ta sem acesso P*!__disse o médico.
__ Ninguém ta conseguindo, disse uma auxiliar de Enfermagem.
Esse desespero atrai mais ainda a facilidade do erro. Um não escuta o outro que não entende o um.
Álvaro chegou perto, iria tentar um acesso na jugular. A veia do pescoço. Nunca tinha tentado. Eras uma grande oportunidade de começar.
Ao chegar mais perto da paciente, ela girou a cabeça e disse à Álvaro.
__ Me ajuda!
Aquela frase quase que ouvida por leitura labial, trouxe a Álvaro uma difícil tarefa. Voltar ao seu corpo. Ele foi tomado de uma grande insegurança.
Um pedido de Socorro. Este pedido de última hora. Quando não se pode ter mais a ajuda de ninguém, e você é a única solução daquele problema.
Um simples acesso. Uma simples porta para algumas coisas que poderiam salvar aquela vida. Álvaro não conseguiu o acesso.
__ O laringo não está funcionando! disse o médico.
Um grande problema de uma emergência é a manutenção dos equipamentos. É fundamental a quem trabalha neste setor, ter tudo em mãos para trabalhar nesses
momentos cruciais para salvar a vida de alguém.
Dona Cirene morreu vinte minutos depois. Tromboembolismo foi o diagnóstico. MAs o que ficou marcado à Álvaro, foi aquele pedido de socorro que ficou pra trás.
Uma negligência. Omissão. Uma derrota.
Depois desse dia, Álvaro Neto começou a treinar nos pacientes que não tinham mais possibilidades de vida. Aqueles que estavam a dias no leito esperando o
"mensageiro" chegar. Esperavam a morte e Álvaro ia aprendendo a lutar contra ela. Aos poucos a profissão veio trazendo o tato, o odor e a grande sensação
que é ter a essência de ser alguém que vai salvar um outro alguém. Um pedido de socorro ficou marcado em Álvaro Neto.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Acidente Na Lagoa


A voz metálica entrava no quarto.
__ 04 na escuta.
A equipe entregue ao cansaço, tentava achar o rádio comunicador para atender o chamado.
__ Na escuta.
__ Por favor, prioridade a este atendimento. É uma máxima.
"MÁXIMA". Palavra que significava um atendimento de grande urgência. Risco de vida iminente.
A equipe toda levantou-se em um ritmo único. Álvaro Neto estava começando na equipe. Atendimentos de urgência em uma ambulância
trouxeram muitas experiências à Álvaro Neto.
__ Vambora vambora__ dizia Álvaro Neto já indo para a ambulância.
A equipe já tinha pego com a regulação o endereço do atendimento. Lagoa Rodrigo de Freitas. Ao fundo a árvore de natal. Na pista um acidente
grave com feridos no local.
A ambulância chegou em cinco minutos pela proximidade da base ao local do acidente. Chegando perto, luzes do carro da polícia giravam de
encontro ao da ambulância e pessoas às duas da manhã acompanhavam esse resgate.
__ To descendo_ disse Álvaro Neto saindo da ambulância,com as luvas já vestidas.
A médica veio junto trazendo duas maletas. Enquanto o condutor colocava a ambulância em uma posição estratégica, a médica e Álvaro Neto
chegavam perto do atendimento.
__ Que merda__ disse Álvaro chegando perto do acidente.
Um vectra colidiu de frente com uma fiorino. As duas frentes pareciam uma única coisa. O motorista estava preso dentro do painel. Seus
braços foram subtraídos por uma força mecânica da batida. O motorista da fiorino foi jogadado quatro metros longe do acidente. Uma viatura
do corpo de bombeiros já tinha levado uma vítima do acidente para o hospital Miguel Couto.
__ Olha aqui Álvaro__ disse a médica chegando perto de outra viatuira dos bombeiros.
Álvaro olha aquele corpo pequeno, de uma criana de dez anos, quase que irreconhecível em um banco da viatura dos bombeiros. Os braços
fraturados estavam quase unidos nas pernas. Um orifício
no abdome da criança mostrava alguns orgãos. Logo embaixo do banco uma criança com a perna direita fraturada chorando muito.
__ Calma!__disse Álvaro segurando na mão da criança, quue em virtude da dor não conseguia entender nada.
Agora o que fazer? Em uma situação de estresse intenso. choro, sangue e dor unidos em um acidente que poderia ser evitado.
A equipe 04 dirigiu-se ao ocupante do vectra que estava no banco de trás. Uma lesão clara na clavícula e várias lesóes pelo corpo. Sangue
que escorria pelo rosto e um choro quase que desesperador desse ocupante.
A equipe mobilizou e conduziu à viatura. Todos os cuidados foram prestados na mais rigorosa técnica possível.
A equipe chegou no Miguel Couto e ficaram aguardando neurocirurgião sair da cirurgia para ser avaliado. Enquanto isso Álvaro e a equipe
souberam o que aconteceu um tempo antes do acidente.
Armando, chamou o pai para dar um passeio pela cidade. Iriam ao teatro e depois passear com seu filho e seu sobrinho pela orla. No caminho de
volta, O pai de Armando pediu para pegar na direção, porque Armando estava cansado e poderia dormir no volante. Com isso o pai de Armando,
acostumado a dirigir em alta velocidade, fez ultrapassagens perigosas, em até que uma não controlou o carro e foi de frente com a fiorino.
Ele ficou preso nas ferragens e vai ser difícil para a equipe dos Bombeiros serparar o painel do veículo, o volante e o corpo do seu pai.
O seu filho estava morto no banco do veículo dos bombeiros. No momento do acidente, ele estava no banco de trás e voou em direção ao painel.
Seu sobrinho gravemente lesionado. Sua atual namorada tinha sido transferida também com uma lesão pulmonar grave.
__ Álvaro que merda__ falou em voz baixa a médica à álvaro.
Nesse meio tempo chegou na emergência a ex mulher de Armando, e ao saber da morte do seu filho, o desepero tomou conta daquela mulher.
Seus gritos de choro eram escutados por todo o Rio de Janeiro. Suas lágrimas pareciam de sangue, igual ao do seu filho jogado lá naquele carro
dos bombeiros.
Álvaro sentiu uma dor estranha dentro de si. Chorou. Aquela cena iria ficar marcada na sua mente para o resto da sua vida. Na volta à base,
ele tentou fechar os olhos e dormir, mas só escutava aquela voz da mãe desesperada e a cena da criança em pedaços no banco da ammbulância.
Mais uma dor que ficaria no coração de Álvaro Neto. Mais uma cena desse inferno chamado emergência

Pamé

sábado, 14 de fevereiro de 2009

O Homem Do Jaleco Branco


Aquela manhã chuvosa, deixou várias pessoas ilhadas pela cidade. Não por menos ,qualquer chuva a mais provoca um transtorno
aos moradores. Esse transtorno também chega aos profisisonais que iriam trabalhar no posto de urgência 24h da cidade.
Naquela semana, estavam treinando novos funcionários. Funcionários que foram aprovados em uma
prova de currículos e estavam treinando para conhecer a rotina do hospital.
A Enfermeira Andréia, supervisora do plantão, passou para checar a presença dos funcionários.
__ Olá..tudo Bem? Como estamos?
Alguma parte do plantão já havia chegado. Também presente, havia um rapaz escuro de aproximadamente
um metro e setenta, olhos bem escuros, bem arrumado, com um jaleco branco com o logotipo da instituição
Os técnicos apresentaram o rapaz à supervisora.
__ Andréia, você poderia me dar um minuto_ disse a técnica Cláudia a mais antiga do plantão.
As duas foram para fora da emergência.
__ Diga Cláudia_ disse Andréia tirando seu cigarro do jaleco.
__ Esse rapaz que esta treinando é muitro estranho.
Colocando o cigarro na boca, Andréia bate com os ombros.
__ Não entendi..estranho o que? Feio?
__ Não..não..ele é caladão..não pergunta nada, fica ali sentado só olhando.
As duas continuam caminhando e Claúdia continua:
__ E tem mais, ele fica tremendo..ainda por cima veio depois da farra pro plantão..repara só!
__ Então já vi que ele nem vontade para querer aprender ele quer né?
__ Não sei..ele até agora nem uma medicação quis fazer. Nem sequer ajudou a segurar
a criança para fazer uma medicação.
Andréia apagou o cigarro, segurou nos braços de Cláudia e disse:
__ Vamos lá ver o menino.
As duas entraram na emergência e lá estava o rapaz sentado olhando para todos os lados. Suas mãos juntas no colo, raspavam entre si, em
um sinal claro de ansiedade.
Andréia chegou perto do rapaz.
__ Ola meu querido ..você já trabalhou em emergência?
Sem olhar para Andréia ele disse:
__ Já..já_ disse o rapaz sem dar muita atenção.
Andréia achou algo estranho nele. Mas resolveu dar um trabalho para ele.
__ Tem uma medicação para fazer naquele senhor que esta na fila. Ele esta com a ficha na mão. você pode fazer?
O rapaz levantou sem responder. Pegou a ficha de medicação. Olhou de um lado, girou a ficha para o outro. Deixou ela no balcão e voltou a
sentar.
Andréia furiosa, vendo que o senhor estava esperando a medicação e o rapaz acabará de deixar a ficha no balcão e sem dar alguma explicação
senta de novo no seu banco com as mãos cruzadas no colo.
__ Pera ai..eu te pedi para você fazer a medicação ..por que não fez?
O rapaz mantendo o olhar reto, balança a cabeça para a esquerda, em sinal de "não sei".
Andréia levanta o rapaz e o leva para a chefia.
Chegando na parte administrativa, Andréia abre a porta e entra com o rapaz. A chefe olhando para Andréia e para o rapaz sorridente com o
jaleco vestido
levanta e diz para o rapaz.
__ Maurício..o que você está fazendo com esse jaleco?
__ Não sei.__responde Maurício.
Andréia olhando sem saber o que estava acontecendo diz:
__ Oh chefe..ele veio treinar e não faz nada e a senhora ainda pergunta porque ele esta de jaleco?
A chefe de Andréia ri e aponta para Maurício.
__ Ele é paciente do médico rogério, psiquiatra_ diz a chefe de Andréia.
__ Mas como ele está de jaleco..no posto de enfermagem. pronto para trabalhar..fazer medicação...
A chefe olha para Andréia e diz.
__ Eu que te pergunto_ disse para Andréia e segue agora falando com Maurício__ e você rapaz já estava aprontando de novo né.
Maurício foi encaminhado ao ambulatório onde teria uma consulta com o seu médico. Em um de seus delírios, Maurício foi um grande cirurgião
plástico.
É, isso é uma das coisas que já aconteceram nesse inferno chamado emergência.




Pamé

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O Mensageiro


Álvaro esperava a rendição. Na porta da emergência escutou a funcionária do CTI chama-lo.
__ Álvaro...dá um pulinho aqui.
Álvaro entrou no CTI.
__ Você pode dar uma olhadinha aqui, enquanto eu tomo café?
__ Tranqüilo ..vai lá_ respondeu Álvaro.
O CTI tinha 6 leitos. Mas um estava vazio. Outros 4 estavam intubados. Não podiam falar.
Somente um paciente estava interagindo. Anselmo. Menino de 17 anos que sofreu um acidente de carro e estava
paraplégico. Uma de suas vértebras se tornou pó após um capotamento na BR.
__ Oi..Enfermeiro...como está o tempo?
__ Acho que vai fazer sol...ta precisando..disse Álvaro chegando perto do leito!
__ To doido pra ver o sol..estou aqui já faz um tempo..
__ Pede pro pessoal te levar na cadeira de rodas.você já esta com o colete..ai é tranqüilo.. e vai ser até
bom para você__ Álvaro não conseguiu terminar a conversa, seu telefone toca.
__ Pêra ai rapidinho que vou atender aqui.
__ Tranquilo_ disse anselmo.
Álvaro sai do CTI ficando somente na porta, não mais que 2 minutos, volta perto do leito de Anselmo. Já
com o rosto diferente de minutos antes, Anselmo mostra-se agitado e ansioso.
Seus olhos caminham pelo teto do CTI. Abertos correm para o canto do seu leito.Seu corpo reagindo a algo,
contorce como se fugisse de algo que estava perto demais tentando destruí-lo.
__ Sai daqui__ disse Anselmo em voz alta.
Álvaro assustado, procura alguém perto do leito, mas era impossível. Ele estava ali na porta e ninguém
poderia ter entrado. Sinais estáveis no monitor.
__ Eu já te disse...não adianta falar nada..eu não quero saber..não;..fique longe de mim_ dizia Anselmo se
contorcendo no leito.
__ Anselmo..o que foi isso??? O que esta acontecendo..?
Anselmo olha para Álvaro e com uma voz tremula diz à Álvaro.
__ Você não está vendo?
__Quem Anselmo..está de brincadeira?
Anselmo olha para o lado direito. Estica o dedo. E fala
__ Esse homem de capa preta do meu lado.
Álvaro olha para o lado e não vê nada. O CTI vazio. Ninguém poderia ter entrado e muito menos se tivesse
entrado, poderia ter visto nesse momento.
Álvaro caminha para trás. Seu telefone toca. Enquanto fala ao telefone, ainda escuta Anselmo falar.
__ Não..não..eu não quero ir. Não adianta..você não pode fazer isso..eu não acredito em você..nãooo.
Álvaro desliga o telefone e percebe um silêncio.
Anda até o box de Anselmo,caminha devagar, passa pelo leito vazio, passa pelo leito de uma mulher,
Chega ao leito de Anselmo e repara logo no monitor que faz uma reta.
Parada cardiorespiratória.
Álvaro corre e pede para chamarem um médico. Seu olhar depara-se com aquele corpo inanimado. Um olhar
perdido. Uma lágrima corre pelo rosto de Anselmo. Um frio corre pelas pernas de Álvaro. Aquela manhã trouxe algo de novo
para essa experiência de vida.
Os médicos constataram o óbito. Álvaro foi rendido e começou o caminho de volta para casa. Não comentou
com ninguém sobre o fato.
No caminho de volta para casa, com sono, cansado e pensativo, sua mente se distrai várias vezes. Abre bem
os olhos. Pára o carro no primeiro lugar que poderia comprar uma garrafinha de água gelada.
Seu pensamento ficava preso em Anselmo. Descobriu que a morte tem um mensageiro. De um jeito ou de outro.
Acreditem ou não. Só duas pessoas poderiam descrever o que aconteceu: um seria Anselmo a outra é Álvaro Neto.

Este é Pamé, nosso artista que vai retratar todas as histórias.

sábado, 31 de janeiro de 2009

O secretário e o relógio


O carro da polícia queimava os pneus fazendo aquela curva apertada perto da porta da emergência. Seus faróis piscavam. Quando um carro da polícia vem nessa velocidade, temos uma certeza: policial ferido. __ Policial ferido..ta sangrando_ entravam os policiais com duas pessoas feridas. Um dos feridos estava ainda apresentando reações. O outro não apresentava nenhum sinal de vida. Mas uma voz no meio das recepcionistas gritava. __É o secretário..é o secretário. As pessoas buscam o ter e o saber. Mas tudo isso vem um dia a zero. E quando isso acontece, o desespero de perder alguém o se perder, traz um pedido. Um pedido de Socorro. __ Pelo amor de Deus salvem o cara ai_ gritava um policial com um fuzil na mão. Um dos feridos pelos tiros de pistola, era o secretário de saúde. O Outro, era seu motorista, um policial militar . Álvaro correu para o paciente que parecia ser mais grave, mas todos esqueceram de ver o mais viável. As atenções concentravam-se no secretário, quando o motorista era o único viável naquela sala de politrauma. O médico plantonista massageava o secretário enquanto retiravam o relógio de ouro maciço que valia cinco mil reais. Álvaro tinha acabado de puncionar a jugular esquerda e pelo motivo de um mar de sangue no corpo do secretário, nenhum esparadrapo conseguia segurar nada. __Com uma mão eu seguro o jelco..e com o dedo da mão direita to colocando no buraco do tiro..ta saindo sangue do coração__ dizia Álvaro.. __ Ta na merda...ta na merda__ dizia o cirurgião em referência ao motorista. A sala de politrauma lotada de pessoas. muitos curiosos que sentem o prazer de ver cenas que pessoas lutam para esquecer. O motorista tinha levado um tiro no abdome e outro na região occipital. Parte da massa cefálica tinha caído naquela sala de politrauma. Muitos tênis estavam cheios dessa massa cefálica. O chefe de plantão avaliando toda a cena, com o sangue mais frio circulando pelo corpo, viu que o secretário não tinha mais chances. Enquanto o motorista lutava ainda por vida. __ Corre nele..Álvaro..deixa esse que já era_ gritou o chefe de plantão. Álvaro largou o buraco e o jelco e partiu para o paciente do lado. A gana de salvar as vidas cega quem atende. Qualquer um perceberia que o secretária tinha dado entrada morto. Mas a respiração de " peixinho fora d'água" do motorista que deveria ser o centro das atenções de todos ali, ainda mantinha alguma chance. __Tubo__ pediu o médico. __ Tá com veia..pode mandar__ respondeu o técnico Marcelo. __ C*..ta saindo a p* do cérebro todo__ gritava Álvaro em desespero com parte do cérebro na mão. __ Calma..faz uma compressão..vamos estabilizar e levar para o centro cirúrgico. As horas se passaram. O secretário morto e sem os pertences. Nessa confusão dentro de uma sala de quatro por cinco metros, uns quinze profissionais e mais uns dez curiosos. O relógio de cinco mil reais tinha se evaporado. O motorista foi com vida para o centro cirúrgico. Conseguiram salvar uma vida naquela noite. Mas a vida que ele teria depois daquele dia, seria parecida como uma palmeira no jardim. Depois do incidente, todos da emergência já esperavam os carros de polícia, repórteres, políticos e familiares que estariam ali. Restaram umas perguntas: Quem atirou? Quem poderia ter visto mais cedo que o motorista era a única vítima? Quem roubou os pertences? A família chegou, e depois de deixar cair algumas lágrimas pelo falecido, chamou a polícia porque queria o relógio de volta. Se soubessem quem foi... Álvaro Neto enquanto lanchava, retirava os pedaços de massa cefálica do seu tênis. Depois foi para o chuveiro e deixava cair pelo seu corpo a água gelada. As cenas de sangue, gritos e tensão pairavam no ar, mas já iam ir embora. Afinal de contas, essas situações são familiares para quem trabalha nesse inferno conhecido como emergência.