sábado, 19 de dezembro de 2009

As Meninas Do Careca









O tom de chamada ecoava no ouvido de Álvaro Neto. Depois do término com Cíntia, sua namorada, ele tinha voltado ao mundo dos negócios amorosos, podemos dizer assim.
De certo modo, as companhias exercem uma forte influencia nos atos das pessoas. Justamente em momentos de indecisão ou quando as pessoas estão fragilidades por perdas ou tomadas por sentimentos de egocentrismo.
__Alô__ dizia a voz roca do outro lado da linha.
__ Opa..é o careca__ dizia Neto tapando a boca pelos corredores do hospital__ aqui quem ta falando é um colega do doutor Sérgio.
__Sérgio?__ indagava a voz
__ O médico da emergência do Municipal__ respondia Neto
uma pausa de pouco mais de três segundos e a voz já retomava com outros ares.
__ Puta que paril...Serginho??? Caralho como esse filho da puta ta?? Tem tempos que ele não me encomenda nada!
__ Po eu disse pra ele que tava afim de um docinho...é docinho né?
__ Isso mermo
__E hoje eu estava afim de algo desse tipo..tem como separar ai pra mim?
__ Lógico..só pegar o endereço que mais tarde vai ter algo de qualidade pra você aqui
A encomenda de uma noite feliz foi feita. Agora Álvaro Neto tinha duas missões: a primeira era conseguir alguém para fazer o seu plantão de noite e a outra era conseguir companhia.
Com dois telefonemas o primeiro problema já tinha sido solucionado. O segundo parecia bem mais complicado. Arrumar alguém que queira ir comigo.
Álvaro Neto falou com um. Ligou para outro.
__ Pó to sem grana__ dizia um
__ To sendo marcado demais em casa...ta complicado__ disse outro.
Marcos. Esse topa tudo. Guerreiro da noite, apesar de casado não possuía na alma o espírito aventureiro. Preferia a adrenalina ao sossego da casa.
__ To dentro, mas tem uma festa de confraternização lá do outro hospital para eu ir__ disse Marcos por telefone a Neto.
__ Po cara..vamos hoje..já acertei tudo com o careca. E eu sei que você sabe o endereço.
__ Fechado..às 20h nos vamos.
Tudo combinado. Falta explicar o que fariam. Careca era o maior agenciador de garotas de programa daquele município. Trazia meninas do Espírito Santo que buscavam um lugar para ficar enquanto estudavam ou algumas conseguiam juntar uma grana para abrir um negócio em sua cidade natal ou pagar dívidas.
Seguindo às riscas todas as orientações de Marcos, Neto esperava-o no posto de gasolina. Marcos chegou atrasado uns vinte minutos.
__Cara, vou te levar antes em um lugar show de bola..muito melhor que o do careca.
__ Mas dizem que as do carecas são as melhores.
__ Porra nenhuma;..mas faz o seguinte.. te levo nesse e depois na do careca..ai você escolhe. Depois vou na confraternização la do hospital..você quer ir comigo não??
__Não..não..quero pagar..
__ Lá vai conseguir de graça hein..
__ Fora de problema!
Riram e foram, cada um em seu carro. Marcos em seu monza classic ano 94. Azul. Um emblema de fábrica dizia : COPA DO MUNDO.
Chegaram em um local distante. Uma rua de terra levava a uma casa grande. Bem iluminada de frente com um amplo espaço para estacionamento.
__ Bom noite senhores__ dizia o homem de terno na porta. Foi ali que Álvaro Neto chegou a conclusão que o nome zona foi pessimamente colocado. Deveria ser ordem, porque de zona aquilo ali não tinha nada.
Uma pulseira com um código de barra foi colocado nas suas pulseiras. A cada consumação, um laser era passado pelo código. As portas dos quartos só eram abertas pelos códigos das pulseiras.
Uma linda loira aproximou-se, e com uma voz com nítido sotaque capixaba trouxe as honras da casa.
__ Conhecem a casa, senhores?
Os três trocaram alguns minutos de conversa. Na verdade Neto queria ir para onde o Sérgio tinha falado que era padrão.
O careca só traz a elite
A voz de Sérgio perdurava na mente. Mas Marcos virou-se e disse:
__ Vamos em outro lugar!
“Vamos em outro lugar”, era isso que Neto queria ouvir. Seguiu Marcos e foram para o tão esperado encontro com os doces do careca.
Pegaram a rua da praia e seguiram para um restaurante de luxo em umas das esquinas da orla. Pararam o carro um atrás do outro.
__Curte a noite__ disse Marcos completando com um tapinha nas costas de Neto__ as meninas aqui são super gente boa.
Neto ao entrar no local estranhou. Um local bem diferente . Poderia até ter trago sua mãe, enganando-se por causa do lugar. Várias mesas, com som ambiente. A iluminação clara, conseguindo-se ver os rostos de todos os presentes. Em algumas mesas uns casais em conversas, taças de vinho. Garçons pela casa circulando com pratos e espetos de churrasco.
A mesa na qual Marcos dirigia-se, era longa contando com cerca de umas quinze mulheres e alguns homens. No canto esquerdo de quem chegava estava lá o careca. Com seu jeito largado cercado por duas meninas.
__Alo gente esse aqui é meu amigo Álvaro.__Marcos apresentava Neto a todos presentes.
Marcos foi falar individualmente com cada uma das moças e com os rapazes presentes.” Isso seria uma pré suruba” , pensava Álvaro Neto.
__Você não vai falar com a gente não gato__ dizia uma morena bem no fundo da mesa a Álvaro Neto.
Pensou duas vezes. Estava me graça. Na verdade ele tinha achado a elite muito fraca. Meninas para se dizer a verdade feias. Mas já estava no inferno, então sentaria no colo.
Passou de uma a uma. Com beijos, suspiros nos cangotes. Era observado o tempo todo por Marcos que parecia fazer-lhe algum tipo de sinal. Não estava entendendo. Tinha que escolher uma daquelas meninas do careca. Chegou do lado do careca, apertou a mão do careca e levou a boca até o ouvido dele e sussurrou:
__ Já escolheu o docinho pra mim?
No mesmo instante o senhor de aproximadamente uns sessenta e cinco anos, deu um sorriso de canto de boca e deu com os ombros.
De repente algo estranho. Viu uma criança no meio de um casal.
“ Pedofilia, desse jeito” Sentiu-se mal. Apertou algo na garganta. “ Quem é essa gente que traz uma criança para esse lugar. Um outro casal com as mãos dadas e ambos com anel de casados.
“Muito estranho,...estranho demais”. Seu olhar percorria o local. Na mesa, vários guardanapos com o dizer ADEGA DA PRAIA. Seu olhar continuava a girar pelo local. Escutava um burburinho das pessoas na mesa. Apertou, sussurrou, e em uma até passou a língua no pescoço em um beijo mais demorado.
Marcos puxou Neto pelos braços e levou até o banheiro.
__Ta maluco Brother..fumou maconha estragada?
__ Que foi porra..to aproveitando..
__ Mas são modos isso que você ta fazendo??
__ Fazendo o que porra???Estranho é uma criança nesse lugar!
__ Que lugar..
__ Essa zona aqui!
Imediatamente Marcos colocou a mão na cabeça e rodou o corpo.
__ Esse lugar é um restaurante. Essas pessoas são a galera lá do outro hospital. Aquela mulher que você sussurrou no ouvido é minha chefe. Aquele senhor que você também sussurrou é o capelão. Aquela menina tem 6 anos e é filha da minha chefe.
No mesmo instante Neto parecia passar um filme na cabeça. O ridículo que ele fez-se passar, o trouxe em um mundo a parte. Sua mente girava dentro dele.
__ Fui__ disse correndo entregando a comanda ao garçom na saída. Ainda teve que pagar o rodízio.
Chegando no estacionamento. Percebeu que seu carro tinha sido roubado.
Saldo negativo da noite: duzentos reais do plantão, sessenta reais do rodízio, 10 reais do flanelinha, e duas horas esperando o seguro levá-lo embora para casa.

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